terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Reta de partida e de chegada.





Essa época do ano é contraditória. Quem teve um bom ano fica triste por ele estar indo, quem teve um ano ruim dá graças a Deus que o fim chegou. Mas todos compactuam da ideia de que algo reinicia. Como eu chamo, o tal “delírio coletivo” de que o tempo se recicla. O tempo não se recicla, mas as nossas vidas sim.

O ser humano sempre busca um bom pretexto para fazer as coisas ou deixar de fazê-las. Precisa de algo que motive à mudança ou a tomar atitude. Dietas nas segundas-feiras, orgias pesam menos na consciência se feitas durante o carnaval, perdões são propícios nos Natais. Mas se quiseres cumular tudo, tens que escolher o início do ano. Esta é a data das mudanças, da renovação.
Eu me aproveito dessa época para fazer meus planos, traçar os novos rumos. Confesso que nem sempre dão certo. Muitos projetos se perdem em meados de janeiro... mas uma boa parte se salva e com alguns arranhões chegam ao final do ano com sucesso.

Hoje o blog faz 1 ano de vida. Ele é um desses exemplos. Há muito tempo queria publicar meus textos, mas tinha receio, vergonha... travas. Tive algumas tentativas frustradas que não sobreviveram a uma única postagem. Até que, em meio a uma correria, me sentei no último dia de 2007 num computador que estava à mão e criei o "Ostracismo Voluntário". Escrevi naquela hora para ter o impulso e a meta de continuar a escrever durante o ano.

A partir daquele dia estava criada a meta: ter um blog, escrever e publicar meus textos. O nome da primeira postagem foi "Fim!" Decidi começar  já acabando pois se não vingasse já estaria completado o ciclo de ser blogueira. Ao mesmo tempo essa despretensiosidade me livraria do fardo da obrigação e expectativa que tolhe a inspiração e a mata os sonhos, porém, dava o afã de voltar a escrever meus reinícios. Esses acontecem a cada novo ano, a cada assoprar de velas, a cada amanhecer, a cada segundo, a cada final de namoro, a cada despedida de emprego ou de amigo. O fim sempre é um começo e enseja novas metas, ara a terra fértil para plantar novos sonhos e colher deliciosas realidades.

O Ser Humano precisa disso, de um objetivo. Pode ser adquirir algum bem ou encontrar o verdadeiro amor, mas todos precisamos de algo que nos faça acordar e vencer um dia. Por mais que adote a filosofia do “carpe diem”, nós vivemos para o amanhã. Nosso dia de hoje está apontado lá adiante. Vamos ao mercado fazer compras para comer nos dias que virão, estudamos para usar o conhecimento no futuro, para passar num concurso, para galgar o emprego almejado; trabalhamos para termos dinheiro para fazer a viagem dos sonhos, para termos filhos, para comprar “o carro”.

 Pode ser a longo ou curto prazo, mas temos sempre algum objetivo, e é ele quem engrena a máquina da vida, por ele nos colocamos a correr. São os sonhos e metas que nos mantêm sãos. Quando agimos para alcançá-los estamos bem, quando conduzimos nossa vida contra os nossos sonhos e metas, nos sentimos frustrados, perdidos. São eles que nos guiam e fazem nosso caminho.

Já que estamos na data certa, vamos repensar nossos objetivos, nossas rotas. Vamos criar metas reais, fazer planos com margem para os tropeços e flexíveis para que se adaptem aos ventos que virão. Crie metas para conseguir os objetivos, mas também metas para moldar a si mesmo. Tentar mudar hábitos ruins, neutralizar defeitos, dirimir conflitos internos.

Hoje, almeje mudar tudo o que quiser, alcançar tudo que desejas. Desejos grandes ou pequenos . Não importa se daqui alguns dias alguns se perderão no caminho, o certo é que sempre haverá alguns que chegarão incólumes e vencedores no final, assim como essas palavras aqui escritas que, mesmo entre cacófatos, vírgulas perdidas, pleonasmos, desencontros entre mesóclises e ênclises, chegaram vencedoras e imperiosas ao seu destino, aos teus olhos. 
*
Obrigada aos meus queridos leitores que me impulsionam a escrever para amanhã, 31 de dezembro de 2008.

Desejo um 2009 cheio de objetivos vencedores!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

De volta ao Natal

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Descobri porque não gosto do Natal. Na verdade faz um tempo que eu sei, mas agora resolvi assumir, tenho esperanças que isso me ajude a mudar um pouco essa visão.
No Natal as pessoas entram numa espécie de euforia coletiva. Todos ficam ansiosos para que tudo saia perfeito: a janta, os presentes, a família completa.
Como a perfeição não existe, sempre há frustração...
Meu problema já começa pela janta, comida fria, arroz à grega, farofa com passas... nunca gostei de nozes, frutas cristalizadas, panetone. Tudo bem que sempre tinha comida reservada pra mim sem essas especiarias natalinas, mas mesmo assim eu me sentia estranha no ninho.
Depois os presentes... minha mãe sempre errava os presentes de Natal. Dava o que eu queria pra minha irmã e o dela pra mim, ou então comprava a prima da minha boneca favorita. Isso que desde novembro eu já ia cantando a pedra do que eu queria ganhar do Papai Noel (sujeitinho, aliás, com quem eu mantinha uma péssima relação... sempre tive medo do bom velhinho). Mas os presentes não me preocupavam, ao fim e ao cabo eu sempre me divertia com o que eu (ou os meus irmãos) ganhavam.
Mas agora, depois de adulta, me causa desconforto esse hábito de presentear no Natal. Acho bonito a simbologia de presentear, mas essa onda de consumo exacerbado faz o encanto se perder. Há tempos que nessa época os cristãos vão mais às lojas do que às igrejas.
Nessa semana saí para comprar um livro para dar de presente a um amigo, fui em 4 livrarias e em todas elas foi impossível eu receber atenção de algum funcionário, tamanha a muvuca das lojas. O que me consolou foi notar que as pessoas compram livros ainda, nem que seja para presentear os amigos. Saí de lá sem o livro, afinal, meu presente vai ter menos prestígio se for dado em janeiro? Sei que para meu amigo não...
O problema não está no movimento das lojas, mas no fato das pessoas ficarem desatinadas para dar algum presente no Natal, criam um estresse em função disso. Não raro se endividam... e quando notam que esqueceram de alguém pedem mil desculpas ou saem a cata de uma lembrancinha perdida para dar de consolo.
Ah... agora a família completa. Foram- se os anos em que toda a família se juntava no Natal. Era até engraçado: tio, primo segundo, irmão da cunhada, sobrinhos, tudo junto com “os mais próximos” para a ceia. Sempre rolava um fofoca entre a mulherada, um comentariozinho sobre a nova namorada do primo mais velho, a desconfiança que o tio solteirão é gay, uma tia que bebe demais e fica “sobressalente”, as cunhadas que não se bicam .... Eu gosto quando mistura todo mundo. Mas de uns tempos pra cá as famílias mudaram. Os primos foram morar fora, os tios cansaram de viajar, os pais se separaram, o irmão começou a passar os Natais com a família da esposa que fica em outra cidade, as crianças cresceram... mas ainda junta um pessoal. O problema é que eu sempre lembro dos que não estão. Ainda não consegui me acostumar com a ausência do meu avó, por exemplo.
Acho que nos dias que antecedem o Natal fico mais sensível. Uma espécie de TPM sui geniris. Parece que preciso ser feliz, custe o que custar e essa falsa euforia me sufoca. Fingir não é comigo.
Para mim, o Natal ideal é aquele em que as coisas acontecem de forma espontânea. As pessoas se unem por prazer, não por convenção. Pode ter porco assado, arroz à grega e farofa com passas, mas nada impede que seja uma “pizza especial”. Os parentes não precisam estar juntos, as pessoas que se gostam precisam emanar coisas boas umas para as outras e isso independe de laços sanguíneos.
Não devemos dar maior importância às datas do que às pessoas e aos sentimentos. Dia 25 de dezembro é só mais um dia, a gente que decide se vai fazer dele Natal ou não. Esse ano o meu será! O primeiro Natal depois de vários 25 de dezembros...

Feliz Natal a todos!!




sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Expelir palavras

*


***

Ando com uma certa angústia em relação ao blog. Às vezes pode parecer displicência, mas no fundo eu acho que é excesso de zelo.
Ele, com um certo orgulho, deixou de ser um ostracismo meu. Tenho pessoas queridas (outras nem tanto) que gostam do que escrevo. Por vezes até me cobram atualizações...
Eu queria muito ter o dom de ter sempre idéias, opiniões e palavras interessantes na ponta dos dedos, mas isso acontece em raros momentos. São insights criativos estimulados por alguma reflexão profunda sobre algo cotidiano, ou algo que me inquietou ou me enraiveceu de tal forma que tenho que escrever como forma de tirar aquilo de mim.
Escrever sobre coisas que não inquietam minha alma me inclina a falar de frivolidades. Sei que a vida é repleta pequenos momentos de discussões cotidianas. Diálogos internos rotineiros, mas inevitáveis. Fazer a lista do mercado, decidir se vou dedicar a manhã de sábado para lavar roupas ou deixar a pilha aumentar e me entregar nas mãos do Morfeu até meio dia... Ligar para alguém para desabafar ou assimilar sozinha o problema... Dar ou não esmola pra criança faminta... Meu dia é feito dessas pequenas indagações e atos que não renderiam um bom texto. O roteiro dos meus dias eu escrevia quando tinha diário. Escrevia nele, desde os dez anos, tudo o que eu fazia. O curioso é que parei de escrever diário, justamente quando meus dias ficaram mais interessantes. Ironias dessa vida... E guardava tudo com um cadeado! Escondia no esconderijo secreto, junto com as cartas de amor. Um dia ainda encontro elas...
Quando meu dia era normal, escrevia “idem ao interior”. Pois é, naquela época já não tinha muita paciência para frivolidades. Se qualquer dia aparecer por aqui um “idem ao anterior”, não se espantem...
Como escrevi no início, coisas cotidianas também me instigam. Eu faço delas um evento quando escrevo, mas na maioria das vezes vivo os dias sem querer analisá-los ou tecer críticas...
Talvez tenha que aguçar isso em mim, talvez seja preguiça... pode ser. Preguiça de pensar... você conhece alguém que já teve? Posso estar sofrendo dessa síndrome quase epidêmica.
O fato é que isso já está me trazendo uma certa angústia, aquela que inquieta minha alma e me faz expelir palavras...



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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

As diferenças que movem o mundo


A diferença entre o veneno e a cura é a dose.
Entre o raso e a essência é o querer ir além.


A diferença entre a primeira e a segunda impressão é o rever.
Entre as almas livres e as outras é a falta de medo do ridículo.


A diferença entre o tentador e o vulgar é a postura.
Entre o pobre e o rico é a medida do que lhe basta.


A diferença entre a risada de alegria e a de desespero é o batimento cardíaco.
Entre o medo e a adrenalina é o suor das mãos.


A diferença entre ver e enxergar é o observar.
Entre a crítica e a ofensa é a intenção.


A diferença entre a criança e o adulto são as dores.
Entre o amor e o ódio é o foco.


Entre a admiração e a inveja é pouca medida de si mesmo.


A diferença entre o primeiro amor e os demais é a falta de referência.
Entre a paz e a solidão é o tamanho do vazio.


A diferença entre o amor e o sexo são as horas depois.
Entre a segurança e a fragilidade é o tamanho da vulnerabilidade.


A diferença entre o que pensa e o que de fato é, está em como age.
Entre a conquista e a impertinência é a abordagem.


A diferença entre os volúveis e os sensatos é a crítica.


A diferença entre o santo e o pecado é o julgamento.


Entre o proibido e o permitido é a existência de testemunhas.


Entre a satisfação e a decepção é a expectativa.


Entre o apaixonado e o poeta é a constância.


A diferença entre tudo e o resto é a essencialidade.


E a ironia que dá graça à história, é que tudo o que nos diferencia acaba por nos tornar iguais.
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terça-feira, 9 de setembro de 2008

Insônia Moral e Cívica

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Chico Buarque e Milton Nascimento - Cálice


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Minha noite estava terminando de forma razoável. Estou lendo o "Código da Vida", de Saulo Ramos, uma mistura de autobiografia com a história político-social e jurídica do Brasil. Ele é história viva... Estava na parte em que chegou até suas mãos o processo da família de Vladmir Herzog, pedindo reparações morais, queriam apenas que fosse oficialmente aceita a tese de que houve homicídio. Transcreveu uma parte do processo em que Rodolfo Konder, que estava com Herzog no DOI-CODI no dia em que ele foi morto e testemunhou algumas fases da tortura, narrava o que tinha visto, escutado e também sofrido naquelas salas.

Fechei o livro, vi que o sono não viria dali. O “suicídio” de Herzog me causa náuseas... Meia noite e o sono, após eu abstrair para outras áreas mais floridas dos meus pensamentos, finalmente chegou.

Uma hora da manhã toca o telefone, minha mãe avisando que o Fito Paez estava no Jô. Pulei da cama e fui ver. Quem me conhece sabe que Fito, é Fito!

Entrevistinha tosca do Jô, mas pude ouvir algumas canções que valeram a pena. Sempre vale... mas o sono foi-se.

A cama não me atrai, o livro me repugna, a chuva me afasta da sacada... o computador me chama.

Aqui estou. O tracinho do Word pisca, pisca me pedindo mais, mais palavras, mais histórias. Esse Word é curioso, às vezes faminto e desafiador. Mas hoje me pegou desprevenida. Me sinto tentada a falar sobre as surpresas da vida, sobre quando ela nos pega desprevenida... poderia dar um bom texto, mas não agora.

Melhor falar sobre quando ficamos sem palavras. Quando, por exemplo, os homens de farda cometem uma atrocidade com a sociedade, praticando um execrável homicídio, forjam um ridículo suicídio...

De fato Herzog e outros tantos vítimas de luta pela liberdade cometeriam suicídio se soubessem que o “povo” hoje em dia mal lembra da sua luta - da mesma forma como esqueceu da sua própria pátria- que muitos jovens veriam de forma “romântica” o terror da ditadura, que um grande números de cidadãos brasileiros nem sabe que isso existiu. Pergunte para jovens de 17 anos o que foi o AI 5. Melhor nem perguntar... A “massa de manobra” ainda é o partido mais forte desse país.

Ontem foi 7 de Setembro. O dia foi lindo, fiz meu mate e fui para a Beira-Mar, buscar um pouco do pôr do sol do Guaíba ou o gramado da Redenção. Encontrei uma linda Florianópolis, esse país ainda tem coisas lindas.

No caminho pensei, que dia é hoje, mesmo? Nenhuma bandeirinha verde- amarela, nenhum desfile, nada de Hino Nacional o dia todo. Parece que teve desfile dos milicos em algum lugar... é ultraje falar milico? Nem sei... não vou ser presa por isso.

Nos jornais não vi nenhuma referência ao Dia da Independência. Tudo bem, sei em quais circunstâncias ela aconteceu, sei que não há muitos motivos para se comemorar, recebemos poucas medalhas nas olimpíadas, mas fiquei absorta com tamanho desdém dos brasileiros com esse fato importante. Mercadinho aberto, lan house da esquina fechada porque era dia de manutenção, posto funcionando 24 horas... Vi apenas muitas carreatas e panfletos de políticos pelas ruas. No dia 7 de Setembro só se escutou o Hino Nacional porque teve jogo da seleção.

A única referência foi o Presidente aparecer à noite em rede nacional por alguns minutos. Falou do Petróleo. Depois que acabou o ouro, resta o petróleo, mas acho que o preço que estamos pagando dessa vez é bem mais alto, não sei se teremos tantas reservas assim.
Isso me deixou sem palavras. Claro, se fosse numa segunda-feira, todos lembrariam com alegria deste dia.

A tese do suicídio de Herzog ainda prevalece nos quartéis, o motivo dos feriados só são lembrados se não caírem no domingo, autoridades ainda balbuciam o Hino errado em solenidades, terras da Amazônia, pertencentes à União estão sendo vendidas a estrangeiros... continuo sem palavras.

Infelizmente acho que De Gaulle tinha razão, o Brasil não é um país sério. Nem tenta fingir que é.

Vou voltar ao Fito Paez, acho que pego ainda o último bloco. Talvez tenha a sorte de escutar aquela que diz “ Al outro dia como el ave fênix me levanto com el pie direcho y rio sim razón, lhevo uma loucura caprichosa...”.


Amanhã é outro dia...
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Suicídio de joelhos...



Herzog, nas imagens publicadas pelo Correio Brasiliense e na na foto clássica distribuída em 1975 pelos órgãos da repressão da ditadura.





quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O Inferno, a Dose e a Liberdade




Quem vê a minha feição meiga e meu discurso reflexivo, que por vezes cai no sentimentalismo excessivo, não imagina quanta maldade sou capaz de fazer.


Meus amigos sabem... Mas toda a maldade que eu faço é para mim mesma. Dores que alimento, pessoas que teimo em manter na minha vida enquanto deveriam estar bem longe, outras que me ignoram, mas finjo que ainda estou ali, algumas poucas que sepultei e nunca mais deixarei voltar, sem dar direito a uma segunda chance. Maus hábitos que alimento para se tornarem meus pequenos desafios, que servem para me desviar dos maiores problemas, sins que me obrigo a dizer e me puno por não ter dito o sincero não.


Como diz Martha Medeiros, todo paraíso precisa de um pouco de inferno. Pois é, tenho meu inferninho. Fica perto da saída de emergência, por onde fujo quando entro em desespero. Porta, aliás, que anda cada vez menos movimentada, graças a Deus, literalmente.


Estou voltando a acreditar nas minhas antigas crenças depois de um flerte imaturo e escondido com o ateísmo. Resultado de doses de Sartre, Nietzsche, Kafka e Wilde. Passei de um para o outro sem oxigenar a alma. Mas errei na medida do veneno e achei a cura. Eles eram demasiados “santos” em suas crenças e na vontade de abrir as mentes humanas - como de fato fizeram - que senti o dedo de Deus em suas linhas. Contraditório? Deus é contraditório.


São escritores muito complexos e reconheço meu atrevimento ao fazer essa análise. Mas todos eles me instigaram a isso, ao pensamento livre.


Conheço pessoas que os endeusam, outras dizem que são crias do diabo... fico no meio- termo, tirei o sumo. Vi neles tanta verdade, sentimentos vicerais, dores e traumas que mutilaram suas almas que me soam puros (nunca ingênuos).


Sartre, por exemplo, era muito feio, gerava até ojeriza em algumas pessoas, mas passou sua vida toda cercada de muitas e até belas mulheres, chegou a ter nove ao mesmo tempo e por muitos anos. Geralmente seu contato sexual com elas durava um tempo, depois, muitas vezes, se tornava uma relação casta, mas nunca se abandonavam. Tinha seu pequeno harém, sustentava emocional e financeiramente suas mulheres (menos Simone de Beauvoir) e precisava do amor delas para viver. Amava cada uma de um modo diferente. Chegou a adotar a mais jovem para poder deixar o legado de suas obras, já que não teve filhos.


Para muitos essa é uma vida errante e digna de censura. Mas isso é fazer um reducionismo simplista. Por mais que tenha havido promiscuidade, em nenhum momento Sartre leviano ou superficial em seus relacionamentos. Sempre foi sincero quanto a sua vida poligâmica. Teve uma relação com todas elas que transcendia, em muito, o físico. Tinham uma ligação muito mais intelectual e espiritual do que sensual. Suas brigas e términos se davam por idéias, mudanças de valores, não por sentimentos de posse ou fim do amor. Eles possuíam o essencial para um relacionamento: o respeito. Não faço apologia, nem sou partidária da poligamia, longe disso. Me descobri demasiada Cristã para isso, além do que, no que tange relacionamentos, gosto de cercas altas. Mas minhas opiniões não me impediram de ver a grandeza de Sartre. Quem consegue ver pureza nisso, mesmo que não compactue, tem alma livre. Sartre foi feliz em suas palavras ao dizer que o inferno são os outros.

De fato, cada um de nós sabe onde está o seu inferno e do resto, fazemos o que quiser.




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Foto do meu amigo Davi Santos

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Abrindo o Portão...













"And love is not the easy thing


Is the only baggage that you can bring


Love is not the easy thing


The only baggage you can bring


Is all that you can't leave behind"


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Este é um texto de despedida.
Estou indo para outro lugar.
Estou deixando tudo o que já não quero.
Um legado que não servirá a ninguém, pois só vestiu a mim e pareceria estranho em qualquer outra pessoa.
Deixo hábitos que não reitero mais,
Buscas que acabaram,
Livros que nunca vou ler,
Crenças que eu tentei ter fé, mas se fosse segui-las condenaria minha alma.
Deixo sapatos que nunca doeram meus pés, quero amaciar novos...
Aprender com novas dores.
Deixo numa porta as flores para que outro regue, essas tenho dó de abandonar...
Estou juntando o que há de melhor em mim e indo para outro lugar.
Larguei velhos vícios e bloqueei o caminho para outros seguidores.
Ignoro os que me chamam, só escuto o que me soa melodia.
Estou indo sem deixar migalhas de pão ou pedras pelo caminho,
Não quero voltar, nem que me achem.
Levo páginas em branco e canetas coloridas.
Levo cilindros, vou ir para onde falta o ar.
Quero aprender a usar pés-de-pato, experimentar dar alguns passos para trás e mergulhar num novo mundo...
Vou sonhar para a frente.
Sei que não é fácil, mas talvez alguém me ajude a reaprender a respirar. Quero ar de qualidade.
Vou eu em busca do meu Ale nto, da minha paz, do meu melhor perfume, do que renova minha fé.
Quero repousar minhas noites no meu melhor travesseiro,
Sentir a doce brisa do ar quente e ofegante que vem quando avistamos um gramado verdinho, ensolarado e corremos até nos atirar sem medo em sua brandura.
Não digo para qual lugar estou indo, porque não sei se vou ficar.
Estou sem teto, mas tenho um lar inteiro dentro de mim.
Levo as chaves, mas para onde vou de nada adianta ter as chaves se as portas estiverem fechadas.
Mesmo que seja com uma cara carrancuda, alguém tem que me receber, dar as boas-vindas e oferecer pouso.
Quero acomodações módicas, toda riqueza vai estar na simplicidade dos sentimentos.
Serei uma boa hóspede. Carrego pouca bagagem, pois é essencial ser livre para poder ficar.
Estou abrindo o caminho...
Levo minha bússola, meu cantil, tênis confortável, protetor solar e imaginação de sobra para passar o tempo.
Não importa a distância, o andar me faz feliz.
Essa solidão passageira não me traz medo. É bom também aprender a ser só.
Nada receio, porque mesmo que eu não encontre ninguém a me esperar, o meu coração já mudou de endereço e nunca mais voltará para o lugar de onde partiu.


* *


segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Desconstruindo Papai Noel


Diz-se que só se ama uma vez na vida. Talvez porque isso seja um mito, tipo Papai Noel ou Coelhinho da Páscoa. A gente crê com muita fé, experimenta o contato, a vivência, depois se descobre que ele não existe. Por isso só acontece uma vez, por isso só se crê no Papai Noel uma vez. A decepção pode ser grande, mas superamos, pois sabemos que houve uma boa intenção por trás.

Os adultos se travestem de Papai Noel para alimentar o sonho que eles também tinham e gostariam manter. Não há maldade no início, nem no fim. Mas uma hora a maturidade chega e precisamos saber a verdade. Às vezes nos contam, outras descobrimos por si só... Assim como o fim de um grande amor que, como as “grandes” histórias narradas, são únicas e eternas.

Nós criamos nossos mitos, os vestimos e deixamos ali, em lugar sublime na nossa alma para serem venerados. Criam mofo, rendem boas histórias, da mesma forma que a velha fantasia do Papai Noel guardada em um saco em uma prateleira na parte de cima do roupeiro. Vez ou outra, para desmistificar algum “trauma” de infância ou relembrar melancolicamente, a gente pega, dá uma olhadinha, mas nunca com ânimus de vê-la em uso novamente (isso destruiria o mito).

É reconfortante não precisar mais se expor ao ridículo de por a meia na janela esperando o presentinho, nem largar da mão da mamãe para pegar uma balinha oferecida pelo Bom Velhinho que sacode o sino em frente à loja. É consolador ter o sentimento fácil e superficial que não nos faz falta quando perdemos, que não nos ridiculariza, nem expõe. É melhor não amar de novo, viver com a cota de amor verdadeiro que tivemos uma vez na vida. É bom ter nosso mito de estimação.

Será? Eu ando pensando que não... na verdade sempre fui meio às avessas. Quando meus irmãos mais velhos ainda usavam fraldas, me rebelei e simplesmente as aboli, um dia tirei minhas fraldas e disse pra minha mãe: “não quelo mais usar flauda". Porém, quando tinha 9 anos ainda chupava bico e,  na hora de por vestido de prenda, eu batia o pé para usar as bombachas do meu irmão... e eu sempre tive muito medo do Papai Noel.

Na verdade nunca entendi a idolatria das crianças por ele. Achava todas vendidas. Nunca sentei no colo de um, mesmo que prometesse me dar a Barbie, o Ken e todo os acessórios da vida rosa pequena burguesa dela. Natal sempre foi um misto de alegria e dor. Pra mim não existia sextas–feiras 13, mas sim 24 de dezembros. Essas noites eram perturbadoras... assim como o amor. Assim como os “grandes amores”. Diferente  da maioria das crianças, fiquei extremamente feliz quando percebi que o Papai Noel não existia.

Certa noite, com o “monstro” sentado na poltrona de casa, fui submetida à sessão anual de tortura infantil. Após receber o presente eu era obrigada  a dar o bendito beijo de agradecimento. Entre gritos de desespero e sapateadas fui colocada do lado dele pelo colo da minha mãe. Lembro do rosto de cada um daqueles cúmplices traiçoeiros rindo  com regojizo.

Ao chegar perto vi o rosto de papel machê, aquela boca rosa, bochecha lilás-azulada, olhos fingindo  bondade em meio a dois buracos (aliás, o coringa do filme do Batman é a cara do meu Papai Noel...). Eis que  então, por detrás daquela máscara, consegui vislumbrar os cabelos e a nuca do meu dindo. Foi uma das minhas maiores alegrias de infância. Fiquei quietinha, mantive a cena dramática e nunca contei para meus irmãos (eu sabia que para eles seria uma terrível decepção). Nem lembro o presente que ganhei, mas nada me trouxe tanta paz naquele Natal.


Por isso, assim como o mito do Papai Noel, falo do mito do amor, com razoável conhecimento de causa, mas vasta experiência na área. Amor é  amor, seja quantos forem. Tive um grande amor, com todos os ingredientes de um grande romance, incluindo ápices de felicidade plena e um longo e doloroso final. Mas não foi “o meu grande amor”. Foi um grande, mas não único.

 Sempre soube que seria ilusão e perda de tempo achar que nunca mais viria alguém que suportasse meus defeitos, que me achasse engraçadinha com a placa de bruxismo, que me amasse muito, apesar de conhecer meus defeitos, que compreendesse minhas carências e a mania de autosuficiência.

É da minha essência não idolatrar ninguém, mas sei reconhecer as qualidades das pessoas e, principalmente, sei ver quem é capaz de me amar e eu também. Confesso que depois dele, conheci pessoas que poderiam me amar, mas eu não teria a mesma capacidade com elas, não haveria a reciprocidade necessária para se ter um grande amor. Também confundi outras tantas vezes sentimentos meus e dos outros que com o tempo me perdi na busca, deixei os olhos desatentos. 

Na última visita da minha mãe, entre goles de café e alguns desabafos, ela me atentou para essa procura. Disse: “Filha, quando fores procurar um namorado, deseje alguém que tenha caráter, que te ame muito, mas que vá amar ainda os seus filhos e os dele  se já tiver, que não tenha tudo, mas que cresça contigo, que não tire a tua autoridade, que tenha força, mas não a use desmedidamente, que tenha opiniões, mas que seja sensato, que não te deixe jamais constrangida ou te faça sentir humilhada, que possa, após muitos anos se orgulhar de ti e tu dele e por fim, que consigam, mesmo velhos terem ternura um pelo outro, porque ao final da vida vai restar o que vocês construírem e o amor que nutrirem durante a vida”.


Depois disso, fiquei igual aos adultos quando chega novembro, comprando luzes coloridas, pondo bolinhas no pinheiro, ligando estrelas que piscam no telhado, guirlandas desejando boas-vindas na porta e meias na janela, com a pureza das crianças esperando o presentinho que pediu mas não sabe se vem - ao menos de onde se espera - mas que pode acabar chegando pela chaminé, numa virada de esquina  ou batendo a  nossa porta.

Foi assim que fiz as pazes e voltei a acreditar no Papai Noel e amar o espírito de Natal, afinal, têm mitos que devem morrer (como aquele de que só se ama uma vez), mas ilusões que precisam ser mantidas, como de ter todas nossas vontades atendidas... sem dúvidas a maior lição aprendida é  que  o medo é uma invenção da nossa mente e serve para somente  adiar ou nos furtar de grandes alegrias!



Álbum de infância.  Foto minha com Papai Noel somente se ele for meu irmão...








Do álbum de infância...




terça-feira, 15 de julho de 2008

O Tempo de Cada Um

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Andei um tempo sem vontade de escrever, com várias idéias, mas sem algo que me puxasse para essa cadeira. E o livro que estou lendo é tão bom que troco facilmente pelo teclado, mas aconteceu algo que tocou e me fez pensar muito. Tem correlação com meu último texto e fala também sobre as fases da vida.

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O Tempo de Cada  Um 



   Às vezes quando estou no centro da cidade vendo as pessoas correndo para todos os lados, paro por alguns segundos e penso: vários mundos se cruzando, cada um preocupado com o que marca em seu relógio, mantendo seu compasso agindo reativamente sem questionamentos, apenas se defendendo do que os ameaça. Cada um na fase que marca seu calendário, e elas podem ser muitas.

 Uma comum é a dos idosos recém separados ou viúvos que vivem uma divertida segunda juventude. Por outro lado, tem também aquela de algumas pessoas de 25, carrancudas que levam a vida fosse um fardo que carregam há muitos anos. Existe a fase dos desesperados, em que se quer viver loucamente, arriscando sem pensar nas consequências. Vivem em euforia, mas geralmente carregam um grande vazio. Essas pessoas estão tentando descobrir algo que supra o eco que têm dentro de si. Se não saem dessa fase até os 20 anos, podem ficar fadadas a viverem nela para sempre em codependência  a algo ou alguém que sirva de bengala.

   Por outro lado, têm aqueles que estão em uma fase ímpar, no sentido de sem par, sem busca, apenas no admirável zelo de encontrar-se. Uma proteção exacerbada mas que se faz necessária, no mínimo, uma vez na vida. As pessoas que estão nessa fase não são felizes nem tristes, mas se sentem no lucro por não terem algo que lhes possa trazer decepção. Sem aquela agitação existencial de buscar algo. Geralmente estão protegidas no seu exoesqueleto passando por um período de reflexão, de mudança de conceitos ou valores, de bases.  Estão se reconstruindo e, enquanto não estão prontos, formam uma “casca” externa para poderem trabalhar em paz em sua empreitada solitária. 

Quem olha desatentamente de fora não nota nenhuma diferença, mas por dentro ela se recria. Isso só acontece com quem tem muito sentimento dentro de si, pessoas intensas e sinceras, por isso sofrem mais quando há decepções, sendo suscetíveis a se tornarem céticas. São pessoas órfãs de algo em que depositar sua fé. Essas só voltarão a ter o verdadeiro brilho quando seus olhos mirarem algo que seja digno da sua lealdade e confiança a quem possam entregar os sentimentos e as façam novamente ternas.  
                                                                                                                         

   Todos que cruzamos estão em um momento único. A vida está cheia de (des)encontros assim, quando se fundem duas vidas, cada uma com um calendário diferente, com uma estação definida, muitas vezes contrárias... um está em pleno verão, outro hibernando em um rigoroso inverno. Por mais doloroso que possa parecer, é preciso respeitar o tempo de cada um. As massas de ar vão se encontrar, vai acontecer a tempestade. Nada fica como antes, mas essa agitação é parte da engrenagem que move a existência. A nossa vida precisa passar por tempestades para, enfim, encontrar a calmaria.





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sábado, 21 de junho de 2008

Estações...



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Há várias formas de marcar o tempo. As mais clássicas e que menos gosto é o relógio e o calendário. Não gosto de saber se estou na terça ou quinta. Prefiro contar meus dias por sensações: fome, sono, alegria, saudade, épocas de pouco sol, de muito vento. Que horas é a novela? Ah, na hora em que o cheiro do jantar do vizinho está chegando na área de serviço. A hora de dormir é quando o livro cai sobre meu peito, em que ele parece ser escrito em javanês. Pode ser também na hora em que fico chata, reclamona.

A hora de levantar é aquela em que me sinto expulsa do paraíso! Ou então naquela em que REM toca no meu celular.

O cheirinho de pizza... Esse me remete ao tempo em que eu e meus irmãos moramos “sozinhos” em Florianópolis, meados de 95... Não tem como esquecer os dois primeiros meses de overdose de pizza. Era um período de dúvidas e entre minhas músicas favoritas estavam She do Green Day e Gatinha Manhosa do Léo Jaime. Foi também nesse ano que pintei meu cabelo de vermelho, estilo que só usei novamente 12 anos depois.

Músicas, assim como perfumes e livros, também marcam minha linha do tempo.
Crises existenciais me remetem à época em que lia “O Diário de Anne Frank”. Eu devia ter 13 anos. Lembro como foi difícil ler as últimas páginas do livro. Eu preferia, assim como muitos de nós, ignorar as mortes em câmeras de gás.

Meu primeiro beijo aconteceu quando a trilha do mês era Losing my religion.
A primeira paixão me lembra November Rain, Guns. Meu perfume era Inamoratta.
Por essa época fiz minha primeira farra. Foi numa festinha de garagem que tinha na trilha Smiths, Police, Dire Straits e, claro, Legião.

Já o primeiro amor foi embalado por El amor después Del amor do Fito Paez (aí iniciou outra paixão). Na verdade nunca consegui distinguir direito minhas paixões dos amores...

O fim do primeiro amor foi no rigoroso inverno de 97. One, Lanterna do Afogados e Give me love na voz de Marisa Monte me faziam dormir entre lágrimas.

Outra fase interessante foi a época em que tive um affair com Érico Veríssimo. Lia Solo de Clarineta, sua autobiografia. Foi um amor puro e, quando via que o fim do nosso romance se aproximava, protelava ao máximo. Lia apenas 5 páginas por dia, até que numa noite ele se foi pra sempre.

Depois não contei mais amores. Era o do Carolina Herrera, o da semana das olimpíadas estudantis, o do halls de cereja ou do acampamento de inverno.

Após esse período passei a ser mais constante e exigente nos amores e nos perfumes. Mas ainda mudo... Depende do dia, da lua, da temperatura lá fora. Mudam perfumes, cor de cabelo, trilhas sonoras, mudam os amores. São as estações da vida. Algumas duram vidros e vidros do mesmo perfume, outras o tempo de uma edição limitada de uma fragrância de verão.

Todo mundo tem sua linha do tempo, seus cheiros e trilhas sonoras. Cada um tem sua forma particular e peculiar de marcar o tempo.

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quinta-feira, 12 de junho de 2008

Relacionamentos

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Vinicius de Moraes - para viver um grande amor

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Nada como o dia dos namorados para discutir sobre relacionamentos. Esses dias eu uma amiga assistíamos a um programa de debates em que um especialista em relacionamentos, a apresentadora e dois convidados homens falavam sobre a arte da conquista.

Cruzamos as perninhas e começamos a observar. Falaram, falaram e disseram que as pessoas deveriam ser elas mesmas, pois as máscaras caem, e um relacionamento para dar certo precisa ser baseado na confiança e na verdade. Só assim alguém de fato vai te amar. Mas se segure, não entregue o jogo. Mistério, as pessoas gostam disso, do difícil, do que parece inatingível. Nesse caso, e somente para esses fins, toda mentira será perdoada.

Se ama, diga que ele é querido. Se pensou o dia todo nele, diga que... não, não diga nada! Não entre em contato por dois dias. A regra é simples: 1 dia pensando nele, dois de afastamento. Total: três dias sem contato. Isso conta pontos para futuro, aproxima. Investimento a longo prazo.

Agora, se não queres compromisso sério, está tudo liberado, o difícil é ter sentimentos verdadeiros para expressar. Mas é isso. Se queres afastar o moço, grude nele!! A cada “eu te amo”, ele se afasta um quilômetro. No mundo de hoje há um conceito geral de que amar é para os fracos e demonstrar a fraqueza é suicídio. O sentimento se tornou tabu.

Na minha opinião o amor anda tão escasso que por si só não precisa de outra forma de valorização, mas a cotação deve estar seguindo outras leis...
Não cola aquela ladainha de medo de se ferir ou ferir o outro. Acidentes de carro matam milhares de pessoas todos os anos e nunca ouvi alguém falar que usa menos seu automóvel por medo de se acidentar. Não se morre de amor. Não estou dizendo que temos que amar desenfreadamente, mas com parcimônia, como merece as coisas preciosas.
É só seguir os sinais de advertência, igual ao semáforo. Fácil assim. Se alguém se joga de uma ponte por amor, com certeza não será por um amor não correspondido, mas por falta de amor próprio.

Depois do programa começamos a nossa mesa redonda. Peguei uns livros que minha mãe me deu sobre relacionamentos: “Tudo o que uma mulher inteligente precisa saber”. “Aja como um homem e conquiste o seu”, “Porque os homens mentem e as mulheres choram?” Tudo presente da minha mãe. Acho que ela não confia na minha habilidade para escolher um bom namorado.

Confesso que recebo esses livros de nariz torto, com desdém. Ela sabe. Traz eles camuflados entre outros livros mais interessantes, tipo venda casada. Vão parar em alguma gaveta entre os renegados.Vez ou outra pego algum dos excluídos para rever meus conceitos. Esse não é o tipo de leitura que me atrai, mas tendo em mãos, sempre acabo lendo.

Bem, eu e minha amiga começamos a analisá-los de forma crítica, como mulheres bem resolvidas e inteligentes que somos. Algumas dicas, de fato, são muito interessantes, outras nos fizeram rir muito, mas, em suma, eles dizem a mesma coisa: se ame, se respeite.
Aquela velha máxima: cuide de seu jardim para que as borboletas pousem.


Até aí tudo bem. Veio a revolta depois. Porque os livros são feitos só para as mulheres? Parece que somos desesperadas por ter alguém. Nós é que precisamos ser a “supermulher”: bonita, inteligente, cool, boa mãe, boa de cama, renegada em seus sentimentos, compreensiva com os sentimentos e necessidades do parceiro e perita em tirar manchas de colarinhos. Tudo a gente! Os homens são muito pretensiosos ou as mulheres burras? Como ainda não há resposta, vou aproveitar que está chegando o frio e vou pôr esses livros na lareira. Manterei minha coleção de sutiãs sã e salva no armário.Tenho certeza vai ter um fim muito melhor do que queimá-los.

Mãe, se leres isso aqui, na próxima vez me traga Vinícius de Moraes, ou irei perder todas as ilusões.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

27 Primaveras


Nessa semana do meu aniversário, resolvi não falar de mim, mas das pessoas que me ajudaram a ser o que sou hoje. De todos aqueles que, de alguma forma, me construíram. MÃE e PAI ... Seu Jair e D.Inês, sei que sabem o quanto amo vocês, falo isso sempre que possível. Nada é tão grandioso quanto o amor que sinto por vocês, a não ser o que vocês sentem por mim. Obrigada por terem me ensinado princípios e valores grandiosos, a nunca me envergar a quem quer que seja, a ter respeito, não só pelos mais velhos, mas pelo ser humano, pelo sofrimento alheio, pela natureza, por todas as coisas que Deus sabiamente pôs no mundo. A me mostrarem que devo dividir o que tenho não só com meus irmãos, mas com todos que precisem, pois só a solidariedade pode salvar o mundo. Obrigada pelos bons e maus exemplos, pois com todos eles aprendi o que é certo. Os defeitos de vocês, me ensinaram a valorizar ainda mais as suas qualidades e a aceitar o que não pode ser mudado. Obrigada pelas carinhosas chineladas, pelas palavras ásperas, pela paciência com a criança manhosa e agitada que eu fui. Pela precoce liberdade, e por sempre respeitarem minha opinião e deixarem que eu tomasse as decisões da minha vida, fazendo com que arcasse com as conseqüências (mesmo que eu tivesse 10 anos). Por terem me dado os melhores irmãos que poderia ter e pelo lar imperfeito que em que me criaram. Isso me fez ver o quanto as dificuldades e adversidades revelam, compõem e engrandecem o amor. Meus manos FABRÍCIO e JANINE, às vezes me impressiono com o quanto nós somos parecidos de alma, e não teria outra palavra que nos classificasse se não irmãos, em todas as acepções dessa palavra. Não sei quantas vezes disse que amo vocês, é mais ou menos o número de vezes que nos despedimos. Ainda é pouco. Vocês são extensões de mim. São meus outros 2 corações. Que coisa chata deve ser filho único! Imagina vocês sem eu pra encher o saco? Pra pegar roupa emprestada (ou escondida), pra brincar de luta, pra brigar mesmo, pra desabafar no telefone, pra dedurar pra mãe? Me orgulho em notar que nunca competimos, nunca tivemos inveja ou ciúmes um do outro. Pelo contrário, ficamos mais felizes com as conquistas do outro do que com as nossas. A distância só aumenta o amor. Só tenho a agradecer a vocês.Queridos AMIGOS, de longe (Angélica,Carol Dias, Gabi, Valéria, Rodrigo, Glauco, Ane, Alê, Rê, Éverton, Isa, Ingrid, Jana, Guilherme B, Kelly...), de perto (Grazi, Renata, Lu, Rodrigo, Murilo), de anos (Giovana, Neca, Madeira, Carol, Paloma, Cleber, Júlia, Didi, Helen, Isa, Lú, Kau...), de meses (Larissa, Fernanda, Renata, Guilherme) e tantos outros que não citei, mas que não são menos importantes. Vocês são minha família por escolha. Obrigada por me darem o bem mais valioso e raro do mundo: amizade verdadeira. Não consigo imaginar minha vida sem vocês. Obrigada por tornarem mais leves momentos difíceis e dividirem as alegrias. E desculpem essa amiga às vezes relapsa. Vocês estão no meu coração sempre!ÀS PESSOAS QUE AMO, obrigada por me fazer sentir o mais belo e puro sentimento que há, o que move a vida. Tudo está registrado no meu coração.E AOS QUE, de alguma forma ME FIZERAM SOFRER, sou muito grata, pois foram nesses momentos que aprendi as maiores lições da vida. Infelizmente é assim que crescemos.Um grande beijo nos coração de todos vocês!

quinta-feira, 29 de maio de 2008

A ilusão da posse

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"Enquanto um fica iludido com o título de propriedade,
Outro vem e toma por usucapião. ”


Fiz essa frase enquanto passava café. Achei bonitinha. Também tenho ócio criativo, ora.
O termo “posse” estava em voga ontem aqui em casa.

É possível ter posse de alguém? Sei que é possível fazer busca e apreensão de pessoas, mas posse não sei, não. Acho difícil alguém deixar de ser dono de si mesmo.

Ter posse de algo é ter algum domínio sobre a coisa, é tirar alguma faculdade que só a ela pertence. Em se tratando de pessoas isso não pode. Não se deve. É querer alguém mutilado, ou, a contrário sensu, querer que alguém se mutile por ti.

As pessoas lutam tanto para serem vistas e aceitas em sua magnitude, com seus sentimentos, aspirações, dores, angústias e prazeres mas, incompreensivelmente, tentam “coisificar” umas às outras.

A posse sozinha, sem pertencimento é vazia, ilusão. Ter um título de propriedade  como meu marido,  minha mulher é apenas uma reles manifestação de que algo lhe pertence. E quem disse que tal “coisa” de fato é tua? Quem tem nossa posse é  o dono do nosso  coração. Pode por uma aliança no dedo ou não. É  desnecessária a convenção.

Talvez por isso haja tantos relacionamentos frustrados, com pessoas que repetem de forma imbecil que Fulano “roubou a sua juventude” ou que foi “usada” por Beltrano. Só se rouba ou usa coisas, objetos. Quem se deixa ser tolhido, não pode reclamar.

As pessoas devem querer umas às outras inteiras. Não ter algo dela. Isso é limitar seu direito, sua liberdade. Também não deve ser interessante ter alguém que se deixe ser de outro.

O interessante em ter o amor de alguém é  justamente tudo  o que essa  pessoa destoante de ti acaba  por te despertar,  instigar.  Amar é  não ter nem precisar, é agregar.

É melhor possuir aos poucos, possuir por entrega. É diferente. Delicioso é possuir alguém que se rende a ti. É juntar, é se entregar ao outro também.

Por isso o usucapião. Nesse caso, humanizando essa forma de aquisição, é quando alguém se deixa possuir. Sem violência, sem título de propriedade. Onde a gente vai invadindo aos pouquinhos e ficando.

É a posse mansa e pacífica. Quando a pessoa tem pleno domínio de si mesma e, ainda assim, te deixa fixar moradia. Isso não precisa de nome algum. É amor, somente.

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segunda-feira, 26 de maio de 2008

Amor e vício





Tenho um problema sério com livros. Um vício que foi herdado - e é alimentado até hoje -por meus pais. Confesso que é amor de infância, um caso complicado.
Minha relação com os livros se iniciou, como muitas meninas, com Poliana. O “jogo do contente” me persegue até hoje...

Quando passo em frente a uma livraria, minhas amigas dizem para eu olhar pro outro lado, fechar os olhos, porque se eu entro numa, sou capaz de ficar horas. Tenho vontade de comer os livros, uma coisa meio Tarsila do Amaral...

Minha preferida é a Saraiva de um shopping de Porto Alegre. Pego um cafezinho, sento em um sofá e me delicio com a “amostra grátis” que eu escolho.

É perigoso eu ir com minha mãe a uma livraria, duas compulsivas. Recentemente uma ingênua compra de dicionário se transformou em um rombo no cartão de crédito. Minha mãe alimenta e instiga o vício de toda a família, e eu sou cúmplice.

Já meu pai sempre me levava aos sebos. Eram deliciosos passeios nos famosos “antiquários” da Rua Riachuelo, em Porto Alegre, onde me ensinou a garimpar preciosidades e a apreciar livros de páginas amareladas, com dedicatórias a pessoas que já devem estar tão esquecidas quanto seus livros, em algum asilo para idosos, também esperando alguém para lhe fazer companhia.

Não me interesso pela última coleção da Folic ou que o estilo anos 50 voltou à moda. Prefiro consumir letras. Meu atual desejo é o “Tête-a-tête”, uma biografia sobre a relação amorosa entre Sartre e Simone de Beauvoir.

Mas confesso que não sou exigente, porém, só vou até fim pelos quais me apaixono. E o final de um livro pode ser tão doloroso quanto o de um amor.

Entro em crise quando as últimas páginas de um bom livro se aproximam.
Eu tento me enganar, demoro a aceitar o fim e resolver logo a questão lendo tudo rapidamente. Masoquistamente saboreio cada página, detendo mais tempo para as últimas. É amor passional.

E quando acaba, tem todo um ritual de despedida. Primeiro dou o último descanso sobre meu peito, depois deixo alguns dias ele ainda na cabeceira da cama. Por fim, dou a última folheada e guardo com carinho na estante.

Alguns me levaram às lágrimas, como “O Diário de Anne Frank”, “Solo de Clarineta”, “A última Grande Lição” e recentemente “O Equador”, belo romance sobre a colonização portuguesa nas ilhas de São Tomé e Príncipe.

Outros, pra ser sincera, dou graças a Deus que chegou ao fim, pois estava insuportável o convívio. Aconteceu com o romance “Os Pássaros Feridos”. Foi meu primeiro longo relacionamento. Era um livro da minha mãe, sobre o romance entre um padre e uma moça. Uma saga de 500 páginas. Eu tinha 12 anos e ler tudo aquilo, com letra miudinha e nenhuma gravura, era um desafio que parecia impossível. Lia na cama da minha mãe, enquanto ela também fazia alguma leitura. Assim, quando surgia alguma dúvida sobre o significado de alguma palavra, ela me auxiliava. Durou vários meses, mas terminei. Nesse fim chorei de alegria, não aguentava mais aquele enredo. Teve também o “Inteligência Emocional" que li muito nova e pouco entendi sobre os termos técnicos, mas compreendi perfeitamente o recado do livro. Esse me ganhou pela insistência.
Depois veio minha fase “romance romântica”, contestadora, mal do século e existencialista.

Confesso que sou um pouco egoísta com meus livros. Empresto tudo o que tenho, mas com meus livros sou receosa. Tenho medo que nunca mais voltem, como já aconteceu. Mas, diferente das minhas paixões humanas, os livros é algo que eu tenho prazer em dividir. Acho que cada pessoa que lê é dona de uma história, cada uma põe suas nuances próprias. Tenho certeza de que a Capitu tem milhares de olhares de ressaca, e Dorian Gray tem, para muitos, feições bem menos delicadas do que o meu.

Esse é o encantamento dos livros. Me transporta para um mundo em que eu não tenho nenhuma ingerência, mas me sinto incluída e essencial. É minha cachaça, meu delírio. O jeito mas sadio de
fazer  cabeça, anestesiar dores e divertir  a alma,




segunda-feira, 19 de maio de 2008

Presságios


Quando tinha 17 anos fui a uma cartomante. Uma amiga estava em crise com seu namorado, achava que ele não a amava mais. Ao invés de perguntar diretamente para ele, resolveu buscar outra forma de ajuda. Claro que o medo do que ia ouvir fez com que me levasse junto. Amigas são pra essas coisas...

Mas não foi só eu, fomos em três amigas. Adolescente tem espírito de matilha....
A terceira era uma cética em relação a prognósticos advinhatórios, mas resolveu fazer uma “consulta”, só por curiosidade. Eu não iria ver meu futuro, sempre preferi a surpresa.

Então fomos nós três. Após as duas terem sido atendidas, estavam felizes com as previsões. Uma aliviada porque o namorado ainda a amava, estava apenas passando por um período difícil. Era só acender uma vela amarela e orar pra um orixá que tudo voltaria ao normal. A outra estava animada com o ótimo futuro profissional que teria e com a aliança brilhante que encontraria em breve (aliança brilhante nos pôs em dúvida: seria casamento ou sorte de achar um anel valioso perdido na rua?) Bem, a cartomante saiu da sala de consulta e me disse para entrar. Eu falei que não iria consultar, estava apenas acompanhando as amigas. Ela falou “Pode vir, sem medo. Não vou cobrar nada de ti, apenas tenho algumas coisas pra te falar.”

Eu já estava curiosa! Pensei naqueles mapas astrais que fazem pela internet gratuitamente e respondem falando várias coisas que tu só vais receber se adquirir a versão completa, por R$ 9,90. Claro, ela me via como uma cliente em potencial.

Mas a curiosidade falou mais alto. Entrei na sala.
Mandou tirar os sapatos, sentar junto à mesa e, após embaralhar as cartas , eu deveria cortá-las em três grupos. Ela foi colocando uma por uma na mesa. Apareceu uma caveira, foice, uma forca, um caixão. Pensei: só desgraça na minha vida!! Maldita hora que inventei de aceitar isso!

Ela viu meus olhos aflitos e me tranqüilizou dizendo que nem sempre essas cartas são presságios ruins, depende do contexto... Ahhh. Que bom! Se até agora veio cartas ruins, só restam as boas... e veio o sol, o coração, o “mancebo garboso”, uma casinha com jardim florido. Opa! Já sei: homem - coração- aliança - casa: VOU CASAR!!!

Bem, foi mais ou menos isso... Ela disse que eu tinha uma luz muito forte, que apareceria um lindo homem, que teria um filho, recém saído de um casamento, mas que eu era a mulher da vida dele, íamos nos dar muito bem. Ele gostava de jogar futebol e tinha um carro vermelho. Ah, fiquei feliz: futebol, filho, carro vermelho = jogador de futebol e o carro, Ferrari, claro. O filho não seria problema, adoro crianças...
Pronto, era só esperar meu príncipe de ébano. E eu me casaria logo, seria a primeira a me casar, entre as três.

Temos que levar em conta a ressalva de que naquele tempo, nosso sonho era ter um namorado, aproveitar um pouco e casar logo! Naquele tempo...
Até eu saí feliz dali. Cada dia pensava: será hoje que conhecerei meu amor?

Quando ficava com alguém dava logo um jeito de perguntar se tinha filhos... se não tivesse já me desinteressava, afinal, seria perda de tempo. Eu esperava meu príncipe vindo em um carro vermelho com adesivo de bebê a bordo atrás.
Se alguém vinha me dizer de algum pretendente, já queria saber se tinha sido casado, jogava futebol... e o carro, claro!

Fazia passeios pelo parque da Redenção nos sábados pela manhã, filtrando o olhar para os homens sozinhos que carregavam carrinhos de bebê ou um ranhentozinho a tira colo. No supermercado sempre tinha um, mas não rolava a química enquanto escolhíamos maçãs...

O tempo foi passando... e eu desisti de achar meu kit.
Apareceram alguns, mas sempre faltava alguma coisa: ou o carro, ou o futebol, ou o filho.

Me lembrei que o namoro da minha amiga durou mais um mês, até ela descobrir que o namorado tinha outra. E a outra amiga, tudo bem, está bem empregada, mas continua solteira até hoje, sem aliança no dedo e sem ter achado qualquer mísero anel de bijuteria no chão.

Percebi que estava sugestionada às coisas que aquela falastrona disse... e me senti mais feliz em voltar a acreditar nas surpresas.

domingo, 11 de maio de 2008

Tenho

Tenho olhos ávidos
Tenho voz doce
Sorriso fácil...
Tenho cansaço nos ombros
Força nos braços.
Tenho costas largas.
Tenho bons ouvidos,
Às vezes, poucas palavras.
Tenho carinho nas pontas dos dedos e alguma dor no coração.
Tenho meus pontos fracos e meus segredos.
Tenho boa vontade...Caridade, compaixão.
Certa inveja dos que não sofrem...
Certa pena dos que não sofrem...
Alguma angústia que me dói na alma.
Necessidade de me sentir amada
Necessidade de amar.
Vergonha das minhas fraquezas
Sinceridade nos sentimentos
Alguma falsidade para os fracos
Sou daquelas que não sabe muito bem para o que veio,
Descrente cada vez mais, mas ainda com fé.
Alguém que às vezes acha que chegou atrasada.
Que aprecia filmes antigos, mas gosta que pertençam ao passado.
Que é feliz na simplicidade do cotidiano, com poucas tragédias e algumas paixões.
Sou um pouco de sorte, um pouco de força, algum dom e um tanto de acasos...

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Ir ao cinema sozinho


Falam que o excesso de gente impede de ver as pessoas, mas tem dias que uma única e qualquer pessoa pode me impedir de ver. Dias que quero ser só minha. Não gosto de solidão, mas não abro mão de momentos preciosos de minha própria e exclusiva companhia. Sou ciumenta! Autopossessiva, pode ser... Comigo tenho esse direito.
Há quem não entenda que não recuso a sua companhia para ir ao cinema, é que eu já tenho outra. Sou tantas que às vezes precisamos nos encontrar. Não vou ao cinema para papear, vou para assistir o filme, ou viajar nos meus pensamentos (cinema é ótimo pra isso). Claro... namorar no cinema tem seu valor, mas isso só vale para os primeiros encontros, depois têm lugares melhores pra isso.
Outro lugar que é precioso para "autoencontros" é a cafeteria. Às vezes um jornal ajuda a ter assunto.
Cena recente:
Uma amiga me liga, no meio da sessão:
Ela: Oi querida, vem aqui em casa!
Eu: Estou no cinema, depois te ligo.
Encerro a ligação e em seguida recebo a mensagem: Com quem????

Parece que para  ir ao cinema tem que estar acompanhado! Ela até agora não aceita que eu, por vezes, GOSTO de ir sozinha ao cinema. E ainda se zangou porque não a convidei! Decidi! A partir de agora vou ao cinema escondia!!

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Dias de chuva


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Gosto de dias de chuva como quem gosta dos sabores efêmeros. É uma delícia ter o prazer de olhar, apreciar simplesmente... ter um pequeno e precioso tempo de paz e calma.

Gosto de dias de chuva como quem gosta de tocar pequenas feridas para sentir a dor que só tem quem viveu.

Gosto de dias de chuva, como quem não teme a nostalgia e sabe saborear gostos escondidos no cantinho dos lábios.

Gosto dos dias de chuva, como quem não tem pressa. Como quem não espera nada e, por isso, tem tudo.

Gosto dos dias de chuva, porque neles a felicidade não é obrigatória. Ela é simples e pura.

Ah... os dias de chuva!! Olhos para o chão, guarda-chuvas abertos, rostos escondidos, como quem teme ser descoberto. Gosto mesmo é de fechá-lo. Me deixar molhar.

Tenho banhos de chuva inesquecíveis que não trocaria por nenhuma ducha quente e não me trouxeram qualquer resfriado. O mundo desaba, mas não nos leva junto. Leva o que deixamos levar.

Os segundos entre o relâmpago e o trovão, o choro de Deus, a bênção dos céus, não sei... o que importa é a inundação da alma.


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quarta-feira, 12 de março de 2008

Viver é um eterno risco




Viver é um eterno risco.
Risco de amar,
De sofrer,
Risco de o amanhã não existir
Risco de não se existir amanhã.
Risco de receber um não
Ou não saber lidar com um sim.
Pois então, aí é que está a graça.
Tudo pode ou não ser, acontecer,
Ali adiante pode ter uma arapuca, ou um tesouro!
Na verdade estamos numa grande gincana...
Todos nós temos uma tarefa a cumprir:
Um negócio a fechar, um encontro a marcar,
Uma prova ralada,
Uma doença pra ser curada, uma amizade pra ser reatada,
Outra pra ser terminada.
Um relacionamento em concordata e cheiro de novo romance no ar.
Então, quem cumprir a sua tarefa com maior eficiência, será o vencedor.
Vencerá a sua luta que tem como prêmio a melhor vida de poderia ter!
A chave para todas as perguntas está nesse árduo caminho que,
convenhamos, por mais belo que possa ser, jamais será fácil.
Como já dizia Hebert, “ O viajar já é mais que a viagem”.
Então, seguindo a música, recomendo: Esteja sempre perto, sempre longe dos covardesdo errado e o certo, pra ter raiva e ter piedade.
Acho que o importante é seguir sempre os seus princípios, porque com o “viajar” as vontades podem mudar, mas a convicção, lealdade e fé são os fatores essenciais que mostram o quanto se é forte. E a força ou se nasce com ela, ou te rala, meu filho!
Mas a verdade é que todos nascemos com ela.
Quem conseguir chegar no final dessa roleta russa, sem o coração embrutecido, terá ganho muito mais do que a gincana da vida, será LIVRE, não dos outros, mas de si mesmo.
E a liberdade de ser que se é e escolher onde quer estar, melhor vitória não há.






segunda-feira, 3 de março de 2008

Loucos e Santos

Bateu a saudade dos amigos distantes...




"Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco. Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril."





Oscar Wilde

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Eu...





Hoje estou sem nenhum assunto interessante pra escrever, mas faz tanto tempo que não escrevo que estou levando o blog a um ostracismo verdadeiro...
Não é que me falta vontade de escrever, mas de algo que me dê vontade de escrever, então resolvi colocar um texto antigo, mas que por falar muito da minha essência, está sempre atualizado.




Essa é época do ano em que devemos fazer um balanço da nossa vida, contabilizar os acertos, os erros e ver o que se pode, e o que se está disposto, a fazer para tornar esse saldo sempre mais positivo.
Pensando nisso cheguei à conclusão que estou em superávit com a vida. Tristezas todos têm, alegrias também, mas o que importa é saber dar valor a cada momento. E isso eu sei bem. Vivo intensamente e saboreio cada instante da minha vida. Cada sorriso recebido, cada lágrima derramada. Me sinto feliz assim. Sou uma pessoa toda coração. Minha razão tem nanismo e minha emoção gigantismo... mas estou sempre em busca do difícil equilíbrio... um dia eu chego lá.
Amo muito a vida, tento dar o real valor aos momentos ruins, sabendo que são os coadjuvantes da felicidade, às vezes a gente os coloca como atores principal em nossas vidas, nos esquecendo que o objetivo é ser feliz e só isso.
Amo intensamente e sofro na mesma proporção, mas tento não contagiar ninguém com a minha tristeza. Amo fazer amigos e conservar as velhas amizades. Tenho facilidade e adoro me comunicar com as pessoas, dar conforto, estar junto e apoiar aqueles que amo ou que precisem de algo. Faço amigos de infância em qualquer lugar e me sinto privilegiada por aparecerem tantas pessoas especiais na minha vida.
Já passei por várias revoluções internas, que bem ou mal, saí vencedora. Sou um tanto agitada, e, às vezes, falo tanto e tão rápido que falta ar e nem eu entendo! Não raro escuto “ Fabrine, respira...” no meio de uma narração de uma empolgante história.
Amo sentir o cheirinho de bebê e ficar vendo eles dormindo, estar com eles me conforta a alma, me traz paz... Amo crianças. Elas, assim como os idosos, sempre retribuem um sorriso espontâneo.
Amo o curso que fiz, lá apreendi mais que leis e regras, mas também sobre pessoas, valores, e as nem sempre fáceis relações humanas...
Não consigo ficar de mal com alguém, menos que um pedido de desculpa me basta para perdoar, um sorriso já diz muito... o que pode ser confundido com pouco amor próprio. Não vejo problemas em pedir desculpas e tentar reatar uma amizade, isso faz bem pra alma.
Como típica geminiana sou muito agitada, faço mil coisas ao mesmo tempo, não gosto de estar só, mas a solidão é necessária para que façamos viagens internas... vejo que há tantas coisas em mim que desconheço ou esqueci, que me sinto uma turista em mim mesma. Cada vez mais estou aprendendo a ficar só e a apreciar minha preciosa companhia.
Sou totalmente despida de falsos pudores e preconceitos emburrecedores. A hipocrisia me irrita.
Acho que a essência do homem não é muito boa, não creio no mito do “bom selvagem”, mas prefiro pensar que a maioria possui valores elevados e integridade de espírito.
Tenho uma alma poeta, herdada do meu pai. A noite me encanta. Nela tudo fica mais interessante. Sou uma boêmia por essência, sou parceira pra uma cerveja em qualquer boteco e passar horas falando e dando risada. Alíás, risada é o meu forte . Aprendi que o lance da vida é sorrir! O bom humor torna tudo mais fácil. Desarma as pessoas, abre caminhos e ainda nos deixa mais bonita. O sorriso é o meu melhor produto de beleza.
Sou uma pessoa rica! Tenho o amor incondicional da minha família, e meus amigos são meu tesouro, pedras realmente preciosas que, assim como diz a música “With A Little Help From My Friends”, sei que com a ajuda deles supero tudo!
Acho que estou no caminho certo, se é que existe certo ou errado... mas se o “certo” é aquele que leva à felicidade, estou indo bem!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

A Arte do Desencontro








Tem um ditado que fala que a vida é arte do encontro, talvez, por haver demasiados desencontros nessa vida...
Creio que o segredo esteja em transformar os desencontros em encontros. Em ver como seu o caminho trilhado por engano e esquecer o que poderia ter sido e não foi. As encruzilhadas são feitas pra testar nossa capacidade de adaptação, pra ver como podemos nos virar com a cota de felicidade que cada um carrega em si. Sim, nascemos com a felicidade em nós, ela não é adquirida com o tempo, com os anos, com a experiência... cada assoprar de velas apenas nos diz que estamos mais capazes de fazer bom uso da alegria que temos em nossa alma. Ela pode ser escassa ou renovável, isso sim, está sob nosso arbítrio.
Resiliência, eis o segredo para desenvolver a arte de “transformar” os desencontros. É a tal capacidade de contornar obstáculos, superar perdas, transformar as adversidades em desafios, “crescer” com as experiências desagradáveis dessa vida. É superar o medo de altura, é reconstruir um coração aos pedaços e ter capacidade de amar tão intensamente de novo, aprender a viver sem alguém que nunca mais voltará, é ter saudade no lugar da tristeza, é assumir suas escolhas, com todos os riscos que ela carrega. É ser a sua própria mártir (no sentido menos cristão e mais ideológico).
Dizem que isso não se adquire, se nasce ou não com ela, mas tenho minhas dúvidas. Não se subestima a capacidade do ser humano...
Resiliência não é apenas superar dificuldades, é fazer isso com maestria. É uma arte? Sem dúvidas. Pra mim, esse é o segredo da felicidade.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Paisagem da Janela

" Da janela lateral do quarto de dormir vejo uma igreja um sinal de glória,
Vejo um muro branco e um vôo pássaro, vejo uma grade, um velho sinal...
Mensageiro natural, de coisas naturais. Quando eu falava dessas cores mórbidas,
Quando eu falava desses homens sórdidos, quando eu falava desse temporal,
Você não escutou.
Você não quis acreditar, mas isso é tão normal... "

....

Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras. Essa imagem me fala muito mais do que mil palavras. Me fala momentos, sentimentos, dores, alegrias. Por cinco anos era por ela que eu olhava os dias e as noites da minha vida. Não sei contar quantas vezes me debrucei nela pra ver a lua, pra sentir o vento, pra tocar a chuva. Sim... e também para tentar enxotar os gatos barulhentos do telhado do vizinho e estender as roupas no varal.
Eu sou uma pessoa que se apaixona muito e não apenas por pessoas. Coisas me encantam, não no sentido material, mas gosto de admirar coisas belas, sentimentos bons, sorrisos em rostos de crianças, ver a beleza em um rosto enrugado pelos anos, uma letra bonita, um desenho feito por uma criança, as nuvens branquinhas num céu azul...
Coisas que a gente não tem, mas possui. Me apodero das coisas que me cativam, assim como essa paisagem da janela do meu quarto.
Agora, sentindo o cheiro de tinta, varrendo meus últimos vestígios, me despeço do meu quadrado mágico. Penso que outra pessoa vai refletir essa Igreja nos olhos. Não tenho ciúmes. Tudo chega ao fim, e eu aproveitei bem meus dias ensolarados e nebulosos em Pelotas. Sei que a beleza e a alegria estão nas coisas simples e cotidianas, então vou achar muita beleza por onde eu for. E sempre que eu quiser, posso fechar os olhos e estar ali, debruçada em livros, em frente ao computador e descansar o olhar por essa janela.