terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Reta de partida e de chegada.





Essa época do ano é contraditória. Quem teve um bom ano fica triste por ele estar indo, quem teve um ano ruim dá graças a Deus que o fim chegou. Mas todos compactuam da ideia de que algo reinicia. Como eu chamo, o tal “delírio coletivo” de que o tempo se recicla. O tempo não se recicla, mas as nossas vidas sim.

O ser humano sempre busca um bom pretexto para fazer as coisas ou deixar de fazê-las. Precisa de algo que motive à mudança ou a tomar atitude. Dietas nas segundas-feiras, orgias pesam menos na consciência se feitas durante o carnaval, perdões são propícios nos Natais. Mas se quiseres cumular tudo, tens que escolher o início do ano. Esta é a data das mudanças, da renovação.
Eu me aproveito dessa época para fazer meus planos, traçar os novos rumos. Confesso que nem sempre dão certo. Muitos projetos se perdem em meados de janeiro... mas uma boa parte se salva e com alguns arranhões chegam ao final do ano com sucesso.

Hoje o blog faz 1 ano de vida. Ele é um desses exemplos. Há muito tempo queria publicar meus textos, mas tinha receio, vergonha... travas. Tive algumas tentativas frustradas que não sobreviveram a uma única postagem. Até que, em meio a uma correria, me sentei no último dia de 2007 num computador que estava à mão e criei o "Ostracismo Voluntário". Escrevi naquela hora para ter o impulso e a meta de continuar a escrever durante o ano.

A partir daquele dia estava criada a meta: ter um blog, escrever e publicar meus textos. O nome da primeira postagem foi "Fim!" Decidi começar  já acabando pois se não vingasse já estaria completado o ciclo de ser blogueira. Ao mesmo tempo essa despretensiosidade me livraria do fardo da obrigação e expectativa que tolhe a inspiração e a mata os sonhos, porém, dava o afã de voltar a escrever meus reinícios. Esses acontecem a cada novo ano, a cada assoprar de velas, a cada amanhecer, a cada segundo, a cada final de namoro, a cada despedida de emprego ou de amigo. O fim sempre é um começo e enseja novas metas, ara a terra fértil para plantar novos sonhos e colher deliciosas realidades.

O Ser Humano precisa disso, de um objetivo. Pode ser adquirir algum bem ou encontrar o verdadeiro amor, mas todos precisamos de algo que nos faça acordar e vencer um dia. Por mais que adote a filosofia do “carpe diem”, nós vivemos para o amanhã. Nosso dia de hoje está apontado lá adiante. Vamos ao mercado fazer compras para comer nos dias que virão, estudamos para usar o conhecimento no futuro, para passar num concurso, para galgar o emprego almejado; trabalhamos para termos dinheiro para fazer a viagem dos sonhos, para termos filhos, para comprar “o carro”.

 Pode ser a longo ou curto prazo, mas temos sempre algum objetivo, e é ele quem engrena a máquina da vida, por ele nos colocamos a correr. São os sonhos e metas que nos mantêm sãos. Quando agimos para alcançá-los estamos bem, quando conduzimos nossa vida contra os nossos sonhos e metas, nos sentimos frustrados, perdidos. São eles que nos guiam e fazem nosso caminho.

Já que estamos na data certa, vamos repensar nossos objetivos, nossas rotas. Vamos criar metas reais, fazer planos com margem para os tropeços e flexíveis para que se adaptem aos ventos que virão. Crie metas para conseguir os objetivos, mas também metas para moldar a si mesmo. Tentar mudar hábitos ruins, neutralizar defeitos, dirimir conflitos internos.

Hoje, almeje mudar tudo o que quiser, alcançar tudo que desejas. Desejos grandes ou pequenos . Não importa se daqui alguns dias alguns se perderão no caminho, o certo é que sempre haverá alguns que chegarão incólumes e vencedores no final, assim como essas palavras aqui escritas que, mesmo entre cacófatos, vírgulas perdidas, pleonasmos, desencontros entre mesóclises e ênclises, chegaram vencedoras e imperiosas ao seu destino, aos teus olhos. 
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Obrigada aos meus queridos leitores que me impulsionam a escrever para amanhã, 31 de dezembro de 2008.

Desejo um 2009 cheio de objetivos vencedores!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

De volta ao Natal

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Descobri porque não gosto do Natal. Na verdade faz um tempo que eu sei, mas agora resolvi assumir, tenho esperanças que isso me ajude a mudar um pouco essa visão.
No Natal as pessoas entram numa espécie de euforia coletiva. Todos ficam ansiosos para que tudo saia perfeito: a janta, os presentes, a família completa.
Como a perfeição não existe, sempre há frustração...
Meu problema já começa pela janta, comida fria, arroz à grega, farofa com passas... nunca gostei de nozes, frutas cristalizadas, panetone. Tudo bem que sempre tinha comida reservada pra mim sem essas especiarias natalinas, mas mesmo assim eu me sentia estranha no ninho.
Depois os presentes... minha mãe sempre errava os presentes de Natal. Dava o que eu queria pra minha irmã e o dela pra mim, ou então comprava a prima da minha boneca favorita. Isso que desde novembro eu já ia cantando a pedra do que eu queria ganhar do Papai Noel (sujeitinho, aliás, com quem eu mantinha uma péssima relação... sempre tive medo do bom velhinho). Mas os presentes não me preocupavam, ao fim e ao cabo eu sempre me divertia com o que eu (ou os meus irmãos) ganhavam.
Mas agora, depois de adulta, me causa desconforto esse hábito de presentear no Natal. Acho bonito a simbologia de presentear, mas essa onda de consumo exacerbado faz o encanto se perder. Há tempos que nessa época os cristãos vão mais às lojas do que às igrejas.
Nessa semana saí para comprar um livro para dar de presente a um amigo, fui em 4 livrarias e em todas elas foi impossível eu receber atenção de algum funcionário, tamanha a muvuca das lojas. O que me consolou foi notar que as pessoas compram livros ainda, nem que seja para presentear os amigos. Saí de lá sem o livro, afinal, meu presente vai ter menos prestígio se for dado em janeiro? Sei que para meu amigo não...
O problema não está no movimento das lojas, mas no fato das pessoas ficarem desatinadas para dar algum presente no Natal, criam um estresse em função disso. Não raro se endividam... e quando notam que esqueceram de alguém pedem mil desculpas ou saem a cata de uma lembrancinha perdida para dar de consolo.
Ah... agora a família completa. Foram- se os anos em que toda a família se juntava no Natal. Era até engraçado: tio, primo segundo, irmão da cunhada, sobrinhos, tudo junto com “os mais próximos” para a ceia. Sempre rolava um fofoca entre a mulherada, um comentariozinho sobre a nova namorada do primo mais velho, a desconfiança que o tio solteirão é gay, uma tia que bebe demais e fica “sobressalente”, as cunhadas que não se bicam .... Eu gosto quando mistura todo mundo. Mas de uns tempos pra cá as famílias mudaram. Os primos foram morar fora, os tios cansaram de viajar, os pais se separaram, o irmão começou a passar os Natais com a família da esposa que fica em outra cidade, as crianças cresceram... mas ainda junta um pessoal. O problema é que eu sempre lembro dos que não estão. Ainda não consegui me acostumar com a ausência do meu avó, por exemplo.
Acho que nos dias que antecedem o Natal fico mais sensível. Uma espécie de TPM sui geniris. Parece que preciso ser feliz, custe o que custar e essa falsa euforia me sufoca. Fingir não é comigo.
Para mim, o Natal ideal é aquele em que as coisas acontecem de forma espontânea. As pessoas se unem por prazer, não por convenção. Pode ter porco assado, arroz à grega e farofa com passas, mas nada impede que seja uma “pizza especial”. Os parentes não precisam estar juntos, as pessoas que se gostam precisam emanar coisas boas umas para as outras e isso independe de laços sanguíneos.
Não devemos dar maior importância às datas do que às pessoas e aos sentimentos. Dia 25 de dezembro é só mais um dia, a gente que decide se vai fazer dele Natal ou não. Esse ano o meu será! O primeiro Natal depois de vários 25 de dezembros...

Feliz Natal a todos!!




sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Expelir palavras

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Ando com uma certa angústia em relação ao blog. Às vezes pode parecer displicência, mas no fundo eu acho que é excesso de zelo.
Ele, com um certo orgulho, deixou de ser um ostracismo meu. Tenho pessoas queridas (outras nem tanto) que gostam do que escrevo. Por vezes até me cobram atualizações...
Eu queria muito ter o dom de ter sempre idéias, opiniões e palavras interessantes na ponta dos dedos, mas isso acontece em raros momentos. São insights criativos estimulados por alguma reflexão profunda sobre algo cotidiano, ou algo que me inquietou ou me enraiveceu de tal forma que tenho que escrever como forma de tirar aquilo de mim.
Escrever sobre coisas que não inquietam minha alma me inclina a falar de frivolidades. Sei que a vida é repleta pequenos momentos de discussões cotidianas. Diálogos internos rotineiros, mas inevitáveis. Fazer a lista do mercado, decidir se vou dedicar a manhã de sábado para lavar roupas ou deixar a pilha aumentar e me entregar nas mãos do Morfeu até meio dia... Ligar para alguém para desabafar ou assimilar sozinha o problema... Dar ou não esmola pra criança faminta... Meu dia é feito dessas pequenas indagações e atos que não renderiam um bom texto. O roteiro dos meus dias eu escrevia quando tinha diário. Escrevia nele, desde os dez anos, tudo o que eu fazia. O curioso é que parei de escrever diário, justamente quando meus dias ficaram mais interessantes. Ironias dessa vida... E guardava tudo com um cadeado! Escondia no esconderijo secreto, junto com as cartas de amor. Um dia ainda encontro elas...
Quando meu dia era normal, escrevia “idem ao interior”. Pois é, naquela época já não tinha muita paciência para frivolidades. Se qualquer dia aparecer por aqui um “idem ao anterior”, não se espantem...
Como escrevi no início, coisas cotidianas também me instigam. Eu faço delas um evento quando escrevo, mas na maioria das vezes vivo os dias sem querer analisá-los ou tecer críticas...
Talvez tenha que aguçar isso em mim, talvez seja preguiça... pode ser. Preguiça de pensar... você conhece alguém que já teve? Posso estar sofrendo dessa síndrome quase epidêmica.
O fato é que isso já está me trazendo uma certa angústia, aquela que inquieta minha alma e me faz expelir palavras...



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