domingo, 25 de janeiro de 2009

Tênis velho


Hoje cheguei em casa no início da noite, estava irrequieta. Uma vozinha dizia run, Bine, run! Fui correr...

Domingo, a cidade vazia, noite calma e ar fresco. Bom para colocar a conversa com a alma em dia. Pus a roupa de ginástica, olhei para meus pés... decidi pôr o tênis velho. Não quero novas dores hoje. Quero um pouco de conforto do que é seguro, do que não me inquieta. Quero aquilo que já possuo e que me possui. Deixei o desconforto para meus pensamentos.

Falar das dores da alma.... essas são as piores. Não há remédio que as cure, se não o esquecimento. Mas até ele fazer efeito, a dor é latente, não dá sossego. Andei pensando muito na semana que passou sobre essas dores. Não nas minhas, pois elas eu sinto, não preciso pensar, mas nas de outras pessoas.


Tenho um amigo que está com sintomas de depressão. Fui conversar com ele, mas não há o que falar. Como na dor todos somos iguais, minhas únicas palavras foram sobre o que aprendi com elas: “Não dê maior importância do que as coisas têm, isso vai passar e tu sairás mais forte.” As dores são como musculação pra alma. Fortifica e enrijece.


O lado bom das coisas ruins, é que tudo passa. O lado ruim das coisas boas, também é que tudo passa... pode servir de consolo, mas é verdade. O que o tempo não cura, ensina a suportar. O que não  podemos nunca é  nos  conformar com  o desconforto. 


Num curto vôo entre Porto Alegre e Florianópolis dei uma lida na revista da empresa aérea. Lembro de uma frase que me marcou a qual me pego pensando às vezes. Falava sobre uma senhora de 88 anos, batalhadora e vencedora. Usaram a seguinte expressão: “Apesar dos inevitáveis sofrimentos da vida, ela ainda expressa a elegância que forjou sua alma ”.


Faz parte da vida os sofrimentos invitáveis. Todos perderemos pessoas que amamos, passaremos por dificuldades, dúvidas, temores, monstros imaginários e reais. Conforme passamos por eles, moldamos nossa alma e alguns, como aquela senhora, passam por tudo isso com a altivez que faz da sua alma, elegante.


Pensei cá comigo, muitas dores virão, isso é certo... será que chegarei elegante aos 88 ou serei uma daquelas velhinhas de alma corcunda? Espero que não... aceito de bom grado as dores, mas quero que elas venham aos poucos, como pesos pequenos que nos fortalece sem causar fadiga.

No fim da corrida, envolta nesses pensamentos, a chuva chegou. Continuei tranqüilamente a solitária volta para casa, saboreando cada gota que escorria na minha boca e se misturava ao suor, pisando em poças e rindo das marquises.
Já tenho um tênis novo para amanhã, lindo e cheiroso que terei amaciar enquanto aprendo com as novas dores e alegrias que ele trouxer enquanto me leva para passear. Deixemos, então, eu e o velho, por hora brincar... 


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