quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Enquanto a moça dormia com seu cão




* * *

Invente verdades, se diversifique.
Esqueça fórmulas e caminhos conhecidos,
Esqueça o lugar comum, caso viva nele.
Pense menos nas jogadas.
Perceba os outros.

Ouça a moça cantarolar a música que toca sua alma,
O velho na parada lendo com os dedos seu livro da história da ciência em braile.
A moça dormindo com seu cão no colo...

Ver o desfilar de fragmentos de emoções e pensamentos na rua centenária.
O novo cristão pregando ao lado da velha figueira, dizendo que o milagre vai acontecer.
O louco locutor das ruas falando sobre política vestido de mulher, com uma caixa de som no pescoço.

E a vizinha ranzinza rindo dele.

A nobre cafeteria cheia de doutores de si mesmos, distribuindo tapinhas nas costas dos conhecidos.

A democracia da mesa de xadrez da praça... só não havia nenhuma mulher. Talvez mulheres não joguem xadrez...

O sol à pino sobre todos, as horas passando para todos, a alegria à mão de todos.
Por um momento voltei a pensar em mim, meus pés doem. Calcei o sapato errado.

E a moça continuava dormindo com seu cão...
*