quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Enquanto a moça dormia com seu cão




* * *

Invente verdades, se diversifique.
Esqueça fórmulas e caminhos conhecidos,
Esqueça o lugar comum, caso viva nele.
Pense menos nas jogadas.
Perceba os outros.

Ouça a moça cantarolar a música que toca sua alma,
O velho na parada lendo com os dedos seu livro da história da ciência em braile.
A moça dormindo com seu cão no colo...

Ver o desfilar de fragmentos de emoções e pensamentos na rua centenária.
O novo cristão pregando ao lado da velha figueira, dizendo que o milagre vai acontecer.
O louco locutor das ruas falando sobre política vestido de mulher, com uma caixa de som no pescoço.

E a vizinha ranzinza rindo dele.

A nobre cafeteria cheia de doutores de si mesmos, distribuindo tapinhas nas costas dos conhecidos.

A democracia da mesa de xadrez da praça... só não havia nenhuma mulher. Talvez mulheres não joguem xadrez...

O sol à pino sobre todos, as horas passando para todos, a alegria à mão de todos.
Por um momento voltei a pensar em mim, meus pés doem. Calcei o sapato errado.

E a moça continuava dormindo com seu cão...
*

4 comentários:

ToN disse...

Beijão e saudade Dra. Nada se justifica mais do que sinto por ti. https://www.blogger.com/comment.g?blogID=600623796939117670&postID=8503315673742575577

Unknown disse...

Parece que isto tudo foi escrito pra Tótinha!!!!!!!!
Beijo

Gabriela Fischer Fonseca disse...

E aí poetisa;

Pra quando está marcado o lançamento de tua obra inaugural?!!!!!


Beijão
Saudadona
Gabi

Andressa disse...

Que texto criativo, no presente... no instante.. adorei! Parabéns pelo talento de fazer os outros visualizarem, sentirem através das palavras. Beijoooo.