quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Amor Natimorto




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Um dia, nalgum lugar, uma eternidade após,
Eu lembraria tudo isto num suspiro:
Dois caminhos divergiam numa floresta de outono,
E eu, eu escolhi o menos percorrido,
E isto fez toda a diferença!

Robert Frost

  
Do Amor Natimorto

Sossega a voz e o coração
Silencia os pensamentos, abafa os gemidos
Nada há de ser tão cruel quanto “o que poderíamos  ter sido”
De hipóteses estamos cheios, amor natimorto.

Amo-te no futuro do pretérito
Como quem tomou o veneno antes mesmo da picada
Aquele que nem vive e já morre

"Amor declarado morto,
Como pode ser tão vivo
Dentro dos limites do meu corpo?"

E qual pena maior do que amar sem amar?
Então se for assim, prefiro que me deixe viver e esfaqueie lentamente.
Deixe-me sentir que nalgum momento houve pulso. Por que daí valeria a morte.

 Enche-me de vazio. Mas não me torture assim.
 Não mate os abraços, beijos, gemidos e plurais.
 Ou que  mate, então...
Salve-me dessa hesitação a cansar meus dias.  

Mas mate lentamente ... que seja de desgosto, frieza, desencanto  ou qualquer coisa que doa em mim. Porque agora não sinto nada que não seja brisa suave.
Seja cruel, me faça sentir cada instante do teu adeus. 

Poupe-me  do sofrimento de não sofrer.
Quero doses cavalares da tua carne e homeopáticas de lucidez.
Dê-me, apenas, o direito ao último suspiro
Aquele que antecede a morte, mas que liberta a alma.


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foto: google

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Resoluções


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Passei o reveillon com amigas numa praia. Após a ceia, fomos para a beira do mar, sendo que até lá, passamos por uma trilha íngreme no breu da noite. Chegamos ofegantes, mas em tempo de apreciar os lindos os fogos. Ótima companhia e o mar imenso à frente. Fomos  correndo pular as sete ondas. Concentradas, contando em conjunto... uma, duas, três... sete!!!! Começamos bem o ano.

A noite passou e 2014 chegou junto com a ressaca de freixenet. Na conversa do café uma delas perguntou: Bine, tu fez os sete desejos?  Eu achando estranho a pergunta respondi: como assim, sete desejos?  ... Ué, os sete desejos das ondas... Ó Cristo! Não era só contar os pulinhos e a sorte vinha de arrasto??

Eis que ela me responde... pois é, eu também não fiz. Mas falei para um carinha que pulei as sete ondas e ele pediu que contasse um dos meus pedidos. Não fiz nenhum também!

Óbvio que rimos muito e conjecturamos sem titubear: nosso ano vai ser trash...  sem  amor, sem dinheiro, sem saúde e blá blá blá. Após um minuto de silêncio ela  soltou a pérola: Quer saber? Melhor que tenha sido assim mesmo... começar o ano sem expectativas, sem frustrações e tudo o que vier é lucro!

A paz e felicidade reinaram em nossos corações...  lembrei de um conselho que recebi certa feita : |Fabrine, crie tudo... mas nunca crie expectativas.  E é verdade. O mal do século são as expectativas, em si e nos outros.  Planos são necessários e plausíveis para direcionar nossas vidas, mas projetar resultados cartesianos  baseados em fatos que nãos estão totalmente sob nosso controle é assinar atestado de frustração e tristeza futura.

Então este ano não fiz resoluções de ano novo.  Para que fazer prognósticos criados no afã do momento, com a sensibilidade aflorada com a comoção da expectativa do ano que virá, fadados a darem errado? Não... deixei para janeiro, quando a poeira tá baixa e  o senso de realidade está mais condizente com as minhas necessidades.

Em 2014 não quero emagrecer, quero ser  frequentadora assídua da academia, beber mais água e menos cerveja, comer mais salada. Também não quero dinheiro, quero  trabalhar afinco todos os dias úteis e ser  valorizada por isso. E não quero ser feliz, quero  visitar mais meus amigos, ir ao cinema, voltar a nadar, caminhar  ao sol e conviver muito com a minha família.

Também não quero um amor, quero abraçar, ser abraçada, beijar, ter muitos orgasmos, descansar a cabeça em um lugar seguro e flutuar. E que tudo isso seja com  mesma pessoa que me faça rir de doer  a barriga.

Ah... e quero chorar um pouquinho também, porque a tristeza faz parte da vida e mostra que estou viva e suscetível aos desprazeres inerentes a ela. Vai me fazer dar mais valor a tudo o que escrevi  antes.

Esse ano quero ter a mesma convicção e confiança que meu cão tem em mim: De que quando eu esteja presente, tudo estará bem e eu só traga afeto, carinho, proteção.


Se 2014 me trouxer tudo isso, maravilha! Se não trouxer... daí vou me divertindo com o que aparecer...  assim a gente faz com que a felicidade vire rotina.




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