quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Despedidas


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Os últimos acontecimentos do ano me fizeram pensar muito sobre a fragilidade  da vida e a real importância da nossa existência. Muitas pessoas perderam seus maridos, filhos, irmãos dando apenas um “até logo”, sem a chance da real despedida. 

Passei a me questionar quantas pessoas que amo e não tive a oportunidade de me despedir. Lembrei dos meus avós falecidos, os que conheci em vida foram internados antes do falecimento e pude, sim, me despedir de todos. Lembro de no leito do hospital beijar cada um, olhar nos olhos e dizer o quantos os amava. Tinha certeza que não teria uma segunda chance para dar adeus.

Perdi amigos também, esses foram no rabo do foguete para o outro plano, de forma abrupta sem que eu pudesse dar um abraço forte e dizer  o quanto eram importantes pra mim.

Veio como lampejo uma súbita e curiosa vontade de que os velórios  fossem feitos com as pessoas ainda vivas. Tipo uma mesa redonda, onde no centro estaria o futuro morto, em que não fosse permitido julgar, nem ofender, nem punir, apenas enaltecer.

Nesse encontro ante mortem poderiam participar todas as pessoas que o pré-defunto tivesse encontrado durante a vida.  Todas teriam direito à voz, mas somente falariam as coisas boas e significativas que ele fez. Não se chamaria velório, talvez festório, pois teria clima de festa e confraternização, com direito a brinde e confetes. Não é isso que se fazem nos velórios? Jogam confetes nos mortos... então pra que privar a pessoa de receber os confetes, elogios e agradecimentos ainda  em vida? Depois sim, viria o velório clássico onde todos os defeitos do morto seriam escritos, sem assinatura, e depositados numa urna a serem enterradas junto com o de cujus. Coisas ruins devem ser enterradas e esquecidas logo, seja de vivo ou morto. Já as boas.... essas devem ser entoadas para além das gerações.

Pois é, talvez você esteja fazendo a mesma pergunta que eu: como saber quando é a hora de fazer o festório, visto que a hora da morte é uma eterna dúvida? A resposta é bem simples, pode-se fazer a qualquer hora e várias vezes, basta que o futuro morto esteja vivo, claro... Pode fazer junto de uma festa de aniversário, no Natal em que a família  está reunida. Pode ser feito também por telefone, quando sentir saudade ou lembrar com carinho da pessoa. É muito simples e libertador.

Uma coisa é fato, todas as pessoas, em detarminado momento, vão nos deixar, seja vivo ou morto. Pense em quantas pessoas passaram pela sua vida? Não falo de quem morreu fisicamente, mas morreu na tua existência física na terra, que não teve mais contato algum. Que sumiram no oco do mundo e nunca irão voltar. Quantas você mesmo as mandou embora? E quantas dessas pessoas se foram sem despedir? Para quantas você gostaria de dizer algumas palavras se soubesse que aquele tchau seria para sempre? Quais seriam suas últimas palavras para ela?

Confesso que não lido bem com despedidas, mas tenho certeza que mais vale um abraço apertado com sabor de último do que mil lamúrias em frente a um caixão. Abracem e beijem seus vivos, declare seus amores. Faça um exercício: pense em uma pessoa que amas e estás distante. Agora imagine que acabou de saber que ela morreu. O que sentiria? O que diria? Quais arrependimentos tem? Quais perdões lhe daria? Agora pegue o telefone, facebook, whatsapp, e-mail, marque um café ou qualquer forma de contato que tem com ela e diga tudo o que pensou. Aproveite a oportunidade de experimentar a sensação de paz no coração.

Pode ser clichê, mas não deixe nenhuma reserva de amor guardado para amanhã. Ele pode nunca chegar e o mundo está cheio de últimos abraços suprimidos e os cemitérios lotados de flores que o ente querido ali enterrado nunca sentirá o perfume.

Então desejo que o amor nunca se demore nessa pressa atropelante dos dias e que   sempre haja tempo para todas as despedidas.

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