quarta-feira, 30 de junho de 2010

Fazendo as Pazes

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Há dias em que não há nada a escrever. Muitos dias em que isso ocorre. Tudo acontece dentro, como disse Clarice.

Tenho meses de silêncio. Ninguém entenderia nada que eu escrevesse. Talvez hoje seja um deles e eu busco uma forma de ser clara. É contraditório: se não tenho o que escrever, não há o que ser entendido.

Têm pessoas que nasceram para solidão e teimam em se misturar. Talvez eu seja uma dessas. Minha ânsia em me fazer entender parece uma fuga da natureza.

Vejo que sou feliz na solidão, mas ela me parece triste. Fui ensinada a achar triste a solidão. Mas é quando estou só que me sinto bela, que as palavras fluem e o amor por tudo brota. Sozinho não há a quem odiar, a não ser si mesmo. E quem odiaria a si mesmo?

As pessoas buscam alguém para dividir a vida, como se a vida pudesse ser fracionada. Sendo assim seria ruim ter alguém, porque quando se divide, se perde.

Talvez a solidão seja um mito. Torná-la ruim seja uma forma de forçar o ser humano a ter relações, a procriar... Talvez a solidão seja a maior expressão do egoísmo. Ser só, estar só. Ninguém mais existe.

Todos nó deveríamos experimentar a solidão. Na verdade todos nós a experimentamos, mas geralmente nos consumimos nela enquanto deveríamos nos alimentar.

Nela eu cesso a busca frenética em agradar aos outros, a impor resultados que não dependem de mim, a querer mais do que tenho direito.

Transformar a solidão em alegria é uma arte. Tornar agradável algo que nos dói é o fim da tristeza e o começo da paz.


...Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Clarice Lispector
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4 comentários:

Silvio disse...

Oi querida.... saudade de ti e dos seus textos.

bjs

Silvio & Lu

ToN disse...

Dra, tudo bem? Esperava pelo momento do teu retorno. Do alto, só os bons sabem o quanto esperei. Você nunca esteve sozinha, não nunca... Antes a CONTEMPLAÇÃO a solid... Deixemos de lado esses rótulos: sou social, anti-social, sozinho ou com uma penca de amigos. CONTEMPLEMOS! O mundo gira, roda, volta, revolta, em poucas palavras: não pára. Não paremos então, ora pois! Ao lado os bons estão sempre junto, v.g., me caso, sim eu sempre estive ao teu lado querida Dra. Os laços meio que se afastam, mas olhe ao lado. Aguardarei por mais crônicas e contos. Conte-me sobre Clarice - meus conhecimentos literários sobre a obra dela são escassos. Conte-me sobre sua vida de advogada, enfim, conte com a minha amizade e contemple a beleza de nada ser o mesmo, da impermanência. Ah, e visite meu blog também, hehehe. Beijão Dra querida e votos de uma excelente e feliz semana!

Anônimo disse...

Uns cosem pra fora, eu coso pra dentro.

andressacf disse...

Que texto lindo. Coincidentemente li quando estava só aqui no apartamento. A medida que lia cada palavra ia me absorvendo um sentimento de paz. Parabéns pela arte de se fazer entender através do texto. Beijosss....