quinta-feira, 18 de junho de 2020

Onde Habita o Artista


    “A ARTE faz-nos transmutar e sobretudo faz-nos ter vergonha de nós-mesmos, é uma força ética, problemática afirmadora da vida.” Acabei de ler essa frase do talentoso e premiado poeta Português Luís  Serguilha, o qual tenho a honra de chamar de amigo.  Ela me pôs a pensar... de fato, a arte devolve  a vida que a existência  tira.

    O Artista tem um papel profilático e ético na missão de encarar sua pior versão no espelho e não ter aversão. Seja qual for sua arte, todo Artista é  um curador.  Primeiro de si mesmo, depois de quem mutualisticamente toma o mesmo remédio por ele criado e solidariamente partilhado: a arte.

   O Artista abre  gaiolas, liberta culpas, doma dragões internos, tira almas perdidas do inferno, pois, por tamanha  empatia  perante a imperfeição igualadora de todos os homens,  entrega a cada um o direito  da própria  absolvição.  O Artista é  um alquimista que cria o elixir que tira as dores da alma e devolve um pouco de paz no cotidiano histérico que paralisa a humanidade.

   O Artista abre caminho nos lugares inóspitos que habitam os medos. Caminho esse solitariamente desbravado por onde onde passa um séquito de iguais angustiados em busca do sentido para a vida. Ninguém o vê passar pelos obstáculos que deixa sua pele toda lanhada. O tempo em que  a maioria  passa dormindo, seja no sono ou no cotidiano, o artista passa desperto se estudando

   O Artista é  julgado de esquisito, subversivo, desencaixado. Ele, de fato, não anda na mesma estrada da manada. Aliás, sabe que nenhum  homem é gado. Enquanto a maioria foge de conhecer a si mesmo o artista passa a vida a  buscar fazer as pazes consigo, pois sabe que este é seu maior inimigo.  E, ao encontrá-la, devolve também  a de muitos, já que no o amor e na dor,  todos somos iguais, sendo idêntico o caminho que cura o  coração.

    O Artista, acima de tudo, é um empata que desata os laços  que prendem  o homem à  sina da auto-ignorância e leva ao engodo de crer na sua insignificância. O liceu do Artista não tem cátedra, nem título  honorífico mas é  onde se obtém a mais alta graduação humana: pertencer a si mesmo e, em meio ao caos, ser dono da própria paz.

    Sou grata  ao Serguilha por ter se arranhado por mim e, através da tua arte, devolvido um pouco  da minha paz. Esse é o maior prêmio que, sob a minha égide, um Artista pode ter.  E onde mora o Artista? Em mim e em você. Dentro de cada um de nós habita um Artista que o mundo  está  ávido por conhecer.

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