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Quando eu
tinha dezesseis anos achava que a vida era infinita, talvez pelo medo da morte.
Hoje, com
trinta e seis, tenho certeza de que ela é. Mas meu corpo não e que a morte é só
uma ficção e espero por ela, mas que venha em tempo, por hora, distante.
Quando eu
tinha dezesseis não tinha nostalgia.
Agora com
trinta e seis, aprendi que nostalgia é o bem querer do passado repisado.
Quando eu
tinha dezesseis, amava Fito Paez.
Agora com
trinta e seis, também.
Quando eu
tinha dezesseis, achava que meus pais eram imortais.
Hoje com
trinta e seis, um pai com AVC e mãe que superou dois cânceres e uma trombose,
sugo o sumo de suas efêmeras existências terrestres.
Quando eu
tinha dezesseis achava que odiava beterraba.
Hoje, com
trinta e seis, amo o gosto doce desse tubérculo.
Quando eu
tinha dezesseis lia Paulo Coelho e sonhava em fazer o Caminho de Santiago.
Hoje com
trinta e seis, depois de ler Kafka, Sartre, Pessoa, Oscar Wilde , Clarice Nietzsche, e
Bukowski ainda sonho em fazer o Caminho de Santiago.
Quando eu
tinha dezesseis não tinha rugas.
Agora com
trinta e seis, desfilo orgulhosamente pelas ruas com meu bigode chinês.
Quando eu
tinha dezesseis fazia o que desse na telha.
Agora com
trinta e seis, também.
Quando eu
tinha dezesseis, sonhava em ser presa numa solitária com um violão onde tocaria
lindas canções do Legião.
Hoje com
trinta e seis, depois de tentar aprender, descobri que tocar violão exige
dedicação, destreza e talento que não tenho e também que o sonho da solitária é
igual ao dos idiotas que vêem poesia na ditadura, além de achar o Legião o
suprassumo da depressão.
Quando eu
tinha dezesseis pensava que não gostar de algo sobre alguém me faria sua
inimiga.
Agora, com
trinta e seis, posso achar Legião Urbana depressivo e amar a música Metal
Contra as Nuvens e outras tantas mas, ainda assim, não querer ouvir quando
acordo num dia de sol.
Quando eu
tinha dezesseis achava que o amor era fruto de uma geração espontânea.
Hoje, com
trinta e seis e um coração retalhado, sei que ele é fruto de uma construção
paulatina,não raro, de algumas vidas...
Quando eu
tinha dezesseis, sonhava em casar e ter filhos.
Agora com
trinta e seis também, mas já cogito congelar meus óvulos.
Quando eu
tinha dezesseis, mudava a cor do cabelo conforme meu estado de espírito,
Hoje, com
trinta e seis, também.
Quando eu
tinha dezesseis achava minha irmã uma chata e démodé.
Hoje, com
trinta e seis, ela é minha melhor amiga.
Quando eu
tinha dezesseis, era maniqueísta. Entusiasta dos rasos extremos da vida.
Hoje, com
trinta e seis e dez anos de advocacia familiar, sou mediadora, partidária do
caminho do meio.
Quando eu
tinha dezesseis fazia terapia.
Hoje com
trinta e seis, também.
Quando eu
tinha dezesseis achava que as borboletas e a fênix me representavam.
Agora, com
trinta e seis, também.
Quando eu
tinha dezesseis achava que ser caçula me fazia ser a eterna criança da família,
Hoje, com
trinta e seis, sei que serei a eterna menina sapeca da família, mas que o meu
irmão mais velho, extremamente exigente e crítico, vai me chamar para ser
a sua advogada (e pagar os honorários, mesmo que eu não queira).
Quando eu
tinha dezesseis, achava que meu coração era do tamanho da minha mão fechada.
Hoje com
trinta e seis, sei que meu coração consegue pulsar e habitar milhas de
distância.
Quando eu
tinha dezesseis, achava que era dona do mundo e senhora do meu destino.
Agora, com
trinta e seis, não tenho mais dúvidas. Sou dona do meu mundo e senhora do meu
destino!
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