quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Alma Canhota







* *


Quero placidamente transitar entre as paisagens da minha alma
Reconhecendo cada esquina como antigas moradas.
Almejo viver minha vida sem altares ou púlpitos.
Sonho pela sutil presença das horas
Sentir cada vão momento como vão momentos que são.
Escrever sem pensar. Escrever por sentir
e sentindo, no cerne imutável da existência,
criar a minha audaciosa biografia póstuma.
Quero passar meus dias a escrever sobre o de cujus que serei.
Quero a morte latente nos meus dias para viver com a gana de um sobrevivente
A morte acompanha a vida, e isso é o que lhe dá sentido.
Quero escrever minha biografia deslizando a mão esquerda sobre o papel manchando de tinta a pele, como cicatriz da jornada errante.
A torta, a gauche, a mutante alma que me suporta.
Pobre alma amante fiel, filha incompreendida e resignada
minha jovem alma sossegada que desperta com o cingir da carne.
E por tão doce e límpida, disputada entre Deus e o diabo pelos seus santos pecados, incompreendida entre os homens, na incompetência de alcunhar, te chamam de canhota
.




* * 

Nenhum comentário: