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A alcunha de balzaquiana sempre me pareceu
algo superior, persuasivo, sexy... venho treinando há algum tempo para não me
preocupar quando chegasse a hora. Antes me autointitulava de
pré-balzaquiana. Agora que estou prestes
a me tornar uma, sei exatamente o que isso significa.
Ser balzaquiana nos
dias de hoje significa ter uma dose excessiva de autoestima, senso de humor e
oportunidade.
É que acontece o seguinte:
quando chegamos aos 30 ficamos no que chamo de “limbo sexo-emocional”. É uma
fase em que não nos satisfazemos com qualquer coisa, com um casinho “meia
boca”, com um sexo mais ou menos, nem temos tolerância com uma conversa
recheada de palavras mononeuronais.
Tenho várias amigas
solteiras que passarão o próximo sábado ouvindo uma boa música, bebendo uma boa
cerveja e aproveitando ao máximo a companhia de si mesmas. Sem se autoflagelar
por não estarem casadas e com filhos.
Claro que a maioria
almeja ter uma família, um homem para chamar de seu e poder fazer um bom sexo
diariamente, mas infelizmente isso pode não acontecer tão cedo. Não temos o afã
de precisar se jogar na “night” a fim de descolar um futuro marido. Mais do que
nunca o intuito aqui é se divertir.
Vez ou outra até é bom
sair na balada e se deixar levar pelas figuras cômicas que aparecem, como os
pavões que recheiam as noites, querendo sobressair aos demais, se tornando a
referência da festa como “o chato” da noite.
Mas
o fato é que o perfil feminino ao qual me refiro são mulheres que estão bem
sozinhas, mas sabem como é bom estar em boa companhia e que festa não é lugar
onde se encontra alguém em potencial para se tornar algo mais.
E
aí complica, pois as possibilidades se tornam limitadas. Como não vamos à caça,
o jeito é ter os olhos atentos. Eu, por exemplo, já iniciei um relacionamento
na delegacia, ao tratar dos interesses de uma cliente com o escrivão de polícia.
Começamos falando sobre a Lei Maria da Penha e terminamos conversando sobre os
sonhos desfeitos no meio desse mundo opressor.
Tenho
uma amiga que tem todos os atrativos para fisgar um bom homem, mas ela é médica
gastroenterologista e trabalha cerca de 15 horas por dia.
O
nicho dela são os pacientes, namorados em potencial... mesmo prezando pela ética
profissional, ter um caso com um paciente não é crime! Certa vez ela contou que
apareceu no consultório um homem lindo, inteligente, carismático e cheio de
outras qualidades, até trocou uns olhares. Acontece que em determinada altura
da consulta ela precisou perguntar como eram as fezes dele: dura, pastosa, em
pedaços, etc. Nem preciso dizer que a
cantada desandou...
Outra
amiga se interessou por um colega de trabalho, começaram a almoçar todos os
dias, faziam programas juntos, se divertiam muito, porém nada acontecia... até
que ela descobriu que o moço era gay e estava interessado no seu irmão.
As
mulheres de trinta estão no pico de suas potencialidades, cheias de qualidades
legadas da recém passada juventude, aliadas a uma prodigiosa sabedoria que as
distinguem da vala comum. Não são nem tão novas que sejam ingênuas e previsíveis,
nem tão velhas que sejam antiquadas e distantes.
Como
fala Balzac, “chegando a essa idade, a
mulher sabe consolar em mil ocasiões em que a jovem só sabe gemer".
Mas o fato é
que a verdadeira mulher de 30 passa à margem de qualquer classificação que
geralmente possui conotação sexual. Ela se preocupa mais consigo mesma, em se
conhecer, se amar, se auto sustentar financeira e emocionalmente, a vencer os
preconceitos e deixar os melindres de lado. E nessa trajetória ela se esculpe com tal beleza que acaba se tornando extremamente atraente aos
olhos seletivos de quem realmente merece tê-la ao seu lado.
Florianópolis, 12 de dezembro de 2010.
* foto: google