Quando se aproximou meu
aniversário de onze anos decidi que queria fazer um galeto para comemorar. Isso
significava um marco na minha vida. Era o fim do balão surpresa, doces e música
do Trem da Alegria. Foi uma decisão bem pensada, já que seria um divisor de águas:
deixaria de ser criança e estaria me tornando adulta, ao menos era essa a
conotação que um aniversário sem balão e gelatina colorida tinha para mim.
Depois de conversar com a mãe
sobre meu novo contexto existencial, baseando a tese no fato de eu não chupar
mais bico desde os nove anos e já estar “mocinha”, comecei a organizar a festa
de transição da infância para o mundo dos adultos. Fiz o convite para o
almoço/balada apenas para os amigos que eram jovens adultos como eu e preparei
o grande dia. O pai era o assador, irmão
o deejay e a pista de dança foi
montada na garagem de casa com as luzes forradas com papel celofane para
garantir o clima intimista.
Pois bem, a hora do almoço foi
chegando e meus amigos não vieram, só estava meia dúzia de agregados da família,
vizinhos e amigos dos meus irmãos. A festa foi um tremendo desastre! Nessa hora fui apresentada ao mundo cruel dos
adultos. Dias depois fiquei sabendo que meus coleguinhas não tinham entendido
que era uma festa, porque quando convidei falei que era almoço e não aniversário. Nessa hora percebi que
estava lidando com crianças e não com jovens adultos como eu...
Os anos se passaram e perdi o
hábito de festejar meu aniversário, até que este ano, sob pressão de algumas
amigas decidi juntar o pessoal. Reservei camarote, showzinho de rock, lugar
legal e tal. Convidei os amigos mais chegados - que confirmaram a presença - e
fui festejar a idade de Cristo. Eis que novamente quase perco minha festa por W.O., meus amigos deram no show...
alguns chegaram cedo e logo foram para um
show de pagode, outros chegaram na prorrogação do segundo tempo, sem
contar naqueles que já tinham outro aniversário programado há mais tempo e nem
entraram na lista VIP.
Essa história teria tom dramático
se eu tivesse onze anos, mas com trinta e três... ah, nessa idade não precisamos
mais de provas de amor, precisamos sim do mais autentico e sincero amor. Se
meus amigos curtem certa banda de pagode, se outros chegaram tarde, atrasou a
apresentação dos filhos na festa junina ou tiveram outro compromisso, algum imprevisto ou
se brigaram com o namorado, o que importa? Sou adepta de cargas emocionais leves, pois de
pesados já bastam os encargos da vida. Meus amigos agiram assim simplesmente
por um motivo: eu os deixo livres. Livres para ir, vir, ficar ou sair. E a consciência
disso lhes dão liberdade para serem o que são. É por isso que são meus amigos,
por se mostrarem pra mim sem máscaras ou subterfúgios.
Não quero visita protocolar, sorriso falso ou
presença inanimada numa mesa de bar. Gosto de amizades vivas e latentes. Quero
a autêntica presença de quem amo, amizade com cabresto não está entre as minhas
preferências. Talvez essa seja a base para os relacionamentos sadios e
duradouros. Sou adepta daquele velho
ditado: se amas, deixe livre... a pior coisa é o afeto forçado, sorriso amarelo e
uma “pseudo-companhia”. O mundo
está cheio falsidade, carne processada, pedras preciosas sintéticas, cerejas
falsas feitas de chuchu, unhas de acrílico, couro ecológico e por aí vai... então
se a cor dos olhos for falsa, que pelo menos o olhar seja verdadeiro. Por isso
gosto dos meus amigos justamente como são, sem máscaras, de cara limpa e alma
exposta.
Vou me sentir extremamente
decepcionada se faltar alento nas horas de dor, se não houver alguém para
arrumar meu véu na hora de entrar na igreja (sim, ainda quero isso...), se não
tiver em quem apoiar quando meu mundo cair, rir quando eu contar desajeitadamente
uma piada, ou quando não tiver ninguém pra revisar um texto que escrevi as
cinco da manhã. E quanto a isso, sei que faltam dedos nas mãos para contar
quantas pessoas estão no plantão 24 horas para me socorrer.
Talvez seja isso, a certeza de
ser amada e querida não deixa margem para insegurança e melindres.
Chega uma hora em que não somatizamos
nem catalisamos dores desnecessárias pois, por mais largos que os ombros se
tornem com os percalços da vida, a gente aprende que boa parte da bagagem é descartável . E isso faz toda a
diferença.
E qual o final da história? Com a
ausência de tantos na festa, pude dar mais atenção a um novo amigo e encher minha
agenda das próximas semanas com cafés, almoço e happy hour com aqueles que querem me entregar o presente ou dar um
abraço atrasado. Ou seja: multipliquei minha festa!
A felicidade vem justamente
quando aprendemos a guardar os dramas, medos e máscaras nas prateleiras do quartinho
dos fundos e vamos viver, sem a obrigação de que saia tudo conforme o planejado,
pois o melhor da vida acontece no improviso.
4 comentários:
Amada, lindo, é isso mesmo, ter amigos e deixá-los livres é o mais sábio. Parabéns mais uma vez pelo seu aniversário e pelo texto maravilhoso. amo-te. beijos Tati.
Lindo texto, amiga. Também sou adepta de cargas emocionais leves. Muito bem colocado... Bem melhor ter alguém porque essa pessoa quer, do que por obrigação.
Já sabes, mas ressalto, que aqui tens alguém para a revisão dos textos, para arrumar o véu, dentre muchas outras coisas... Bjão
Ermance Dufaux dizia que a verdadeira amizade, para prolongar-se e vencer a rotina, twem que estar assegurada por um ideal que absorva os maigos ao twempo que enrije;ca a relação, sem expectativas, amando e perdoando, entendendo suas deficiências como meio de incentivo reforma intima e a consequente coletiva evolução da familia maior que é a humanidade.
Também há anos n comemoro aiversário, mas n pelas cargas emocionais leves, mas talvez pelas pesadas que lhe incudtem a mente.. Lindo texto como sempre um bjao e aguardo o cafe já que sem o facebook até o meu niver sou capaz de esquecer hahaha
Querida Fabrine,
Isso aí! Dedique-se e preocupe-se com coisas que realmente valham a pena o gasto de energia.
Postar um comentário