sexta-feira, 21 de março de 2014

Paralelas



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Ontem fiquei maquinando nessa cabecinha loira.... às vezes faço umas conexões mentais meio loucas, mas que me fazem todo sentido.

Sempre fui péssima nas ciências exatas. Nunca entendi a cadeia de carbono, nem matrizes, amperagem. O que salvava eram as matérias em que eu podia fazer alguma abstração ou link com algo que fizesse sentido, tipo... trigonometria, geometria, cinemática, soluções químicas.

Fui premiada numa feira escolar de matemática (matemática!) quando apresentei um trabalho só com origami. Origami é trigonometria pura! É assim que eu vou aprendendo...

Sempre tive certeza que as exatas nada me acrescentariam na vida. Achava muita inutilidade, mas o curioso é que dali tirei vários aprendizados que carrego e, não raro, uso no dia a dia, como a força elástica nos relacionamentos, Leis de Newton: ação e reação das palavras ditas, a  inércia da zona de conforto, também têm os  fatos cartesianos, axiomas, incógnitas...

Para mim essas aulas eram pura filosofia. O efeito propulsor da mola, aquela que tem no fundo do poço, sabe? E a onda senoidal... já viu uma? O gráfico de uma senoide é tão esclarecedor para entender as fases da vida... às vezes por cima, outras por baixo...  opõe à linearidade.

Queria tanto que minha vida fosse um trajeto com velocidade média linear... ou apenas com algumas curvas adjacentes, mas  sou feita de nitroglicerina pura. Dizem que a principal característica da nitroglicerina é a instabilidade.

Minha terapeuta diz que sou normal, então nem vou registrar que queria ser calminha e previsível como uma molécula de H2O, que se mistura calmamente com quase tudo sem causar estrago e quando não se mistura, também não se contamina.

Pois é, parafraseando Clarice Lispector, com a devida licença poética, que dizia " eu sou um mistério pra mim", aqui digo... sou uma incógnita pra mim.

Mas tudo isso pra dizer que ontem, conversando com uma amiga, tive um insight, e lembrei das retas paralelas.

Minha amiga tem um amigo virtual. Mas não é qualquer amigo... se conhecem há 10 anos. Ela mora em Porto Alegre e ele no Acre. Nunca se encontraram, sem facebook, skype, muito menos whatsapp. Nunca trocaram telefones. Suas conversas são apenas por e-mail. E falam sobre tudo, acompanham a vida um do outro, passaram por casamento, separação, filhos, mortes de familiares... são confidentes.

 Achei tudo tão louco... questionei a ela se não tinha curiosidade, vontade de se conhecerem. Ela respondeu que não, que até gostaria de abraçá-lo, mas que essa forma de contato está ótima. Arrumaram um jeito que ambos se sentem confortáveis. Disse que se houvesse maior contato, não teriam tanta franqueza entre eles e essa amizade é, por vezes, libertadora para ela.

Foi aí que lembrei da lição  sobre as retas paralelas, que  até então não tinha entendido direito. Veio à mente o professor explicando: "paralelas são duas linhas que andam juntas, sem se tocar, apenas se cruzam no infinito." Quando ele terminou a frase minha cabeça deu um nó e fiquei sem entender bulhufas... até que passado um tempo, desisti de entender e se tornou um axioma. É assim, porque é assim. E deu.

Isso até a noite de ontem. Consegui ver claramente. Esses amigos são como duas paralelas... andam juntos, sem se tocar, mas não se afastam. E, quem sabe, se cruzarão no infinito. Porém essa teoria, de que as paralelas se cruzam no infinito, não é absoluta. Aliás, nada é absoluto nessa vida. Nem minhas análises, nem as teorias, nem os axiomas. Sempre há novas teses sendo testadas, saindo vencidas ou vitoriosas.

Mas essa história das paralelas fez pensar nos relacionamentos em geral. Transportando o conceito da área das exatas para as humanas, a qual entendo bem. É interessante um relacionamento amoroso se composto por paralelas, onde coexistam duas pessoas sem que alterem sua forma, compasso, independência e individualidade, mas se cruzem, porém antes do infinito, porque o infinito é longe demais... Elas podem se cruzar agora, depois e várias vezes mais, numa doce alquimia.

Pois é, talvez esse conceito já exista e eu nem saiba. Enfim... têm lições que demoramos a aprender, mas quando aprendemos, fazem todo o sentido.


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foto: google



2 comentários:

Anônimo disse...

Bibi sem palavras! lindo, perfeito etc...
bjs
Gian

ToN disse...

Crônica bacana Dra!

Abração!

Everton.

PS: hora dessas escreve sobre os número que temos de colocar nos comentários, para que o blogue não "pense" e assim provar que não sou um robô, hehehe.