quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Ensaio sobre Baratas







Certa feita uma amiga disse que em meio a uma discussão com o namorado, soltou a seguinte frase: “eu mesma mato minhas baratas”.

Quando  contou o que houve, essa frase ecoou nos meus pensamentos. É uma boa forma de dizer que ela é independente e autossuficiente, claro que estou fazendo uma interpretação lato sensu.

Por um breve momento, lembrei das várias baratas que já matei nessa vida. Sim, morando sozinha, se eu não matar, quem vai? Pior é saber que um bicho feio e nojento daqueles está habitando meu lar.

Não tenho medo de barata, tenho muito nojo, ojeriza e o único medo é que ela venha para perto de mim.

Já travei duelo com spray de cabelo, desodorizador de ambiente, detergente de louça, até amaciante de roupas. Pego a arma que estiver mais perto. Confesso que nas vezes em que não matei afogada, pelo menos deixei ela bem tontinha.

Não é uma tarefa fácil, até mesmo porque, conforme um documentário, as baratas são os únicos seres que sobreviveriam a uma guerra nuclear. Imagine...

Quem já passou por isso sabe o pânico que dá quando ela está em cima da porta, com as anteninhas se mexendo e olhando pra ti, parecendo pronta pra dar o bote.

Sou uma mulher que mata suas próprias baratas, instala chuveiro, troca resistência, botijão de gás, toca sua vida e lida com os embates do dia a dia sem ter pra onde correr e confesso que há pouco drama nisso. Momentos de solidão, vazio e carência fazem parte da vida de todas as pessoas que vivem sozinhas ou não.

Acho que foi isso que minha amiga quis dizer. Que ela sabe se defender e não precisa de um homem ao seu lado para servir como alegoria.

Vivemos numa época em que as pessoas querem, mais do que convenções sociais, serem felizes.

Este parece um texto feminista, mas não é, serve para os homens também. Pessoas que podem fazer um bom lar, criar laços saudáveis e perenes de afeição são as que sabem matar suas próprias baratas, são as que “pegam” juntas nos embates da vida e não têm medo de viverem sozinhas.

É claro que adoraria ter alguém comigo para ajudar a montar a melhor estratégia para matar o tal bichinho ou segurasse a lanterna para eu trocar a resistência do chuveiro à noite, quando queima no meio do banho (segurar a lanterna e trocar a resistência junto é uma árdua tarefa), mas não é por isso que vou por uma plaquinha no pescoço e escrever: “procura-se”.

Todos nós sempre estamos a procura de alguém para coexistir, ter filhos, para amar e ser amado,  eu não fujo à regra. Mas não quero um genitor para meus filhos, um provedor ou a companhia de uma pessoa que sirva para eu descarregar minhas carências ou satisfazer meus caprichos.

Então, que fique claro, não estou queimando sutiã, apenas ratifico a opinião de que, em tempos de relacionamentos falidos, solidão a dois e comodismo emocional,  opto por continuar matando, eu mesma,  minhas baratinhas.


"Minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência  de pessoas. Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer a verdadeira companhia."

Friedrich Nietzsche







* *

4 comentários:

Pleno Jure disse...

Dra. Bine

Não tem barata no meu apartamento, se precisar de ajuda com as suas sabe meu celular, ou me manda uma mensagem...
Bjs.

Anônimo disse...

Eu tb mato minhas baratas...
Concordo, nada de solidão a dois e comodismo emocional, que o outro agregue e não sirva de muleta!
A felicidade vem de dentro, não é mesmo?

Beijos Pá

Anônimo disse...

Adorei!!! Por gentileza, continue nos agraciando seguidamente com tuas expressivas palavras!
Beijooooo, querida minha!

Ingrid

Anônimo disse...

Belo texto. Haja talento.
Concordo que vale para mulheres e homens. Admiro-te pela personalidade e inteligência. Bjs