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A vida não te dá respostas prontas, caminhos retos, direções certas nem obviedades. A vida não vem afinada. Como disse Guimarães Rosa, o que ela quer da gente é coragem.
Tu podes ter a coragem de um kamikaze suicida, de um ancião ou monge tibetano. Coragem para ser o que se é. Mas longo é o caminho do autoconhecimento.
Ao meu ver, o maior ato de coragem é desbravar a si mesmo. Ser mochileiro de seus lugares inóspitos. Desbravar o inviolável de sua própria alma. Esse é o maior ato de coragem .
Tantos ganham o mundo perdendo a sua essência. Percorrem a jornada da vida deixando pelo caminho migalhas de sua própria alma, chegando na reta de chegada vencedores de recordes e perdedores de si mesmos.
Não adianta ser um catedrático laureado mas reprovar no estreito contato com sua própria sombra. Por isso, mais importante do que abrir as cortinas do quarto, é buscar iluminar seu porão.
Às vezes é preciso silenciar a alma do mundo lá fora para poder ouvir qual sinfonia que toca aqui dentro, porque o que faz uma orquestra afinada é o ouvido apurado e a brilhante regência de seu maestro.
Mas não se nasce maestro. É preciso tempo, tato, treino, silêncios, ruídos, coordenação, foco.
E na viagem da vida somos todos maestros amadores conduzindo um bando de desafinados que nos habitam: medos, insegurança, desejos ignorados, talentos adormecidos.
Daí vem a coragem a qual me refiro, aquela necessária para a vida: assumir a maestria perante a condução da nossa existência, pegar a batuta, conhecer e comandar todos os "eus" que nos habitam, afinar os instrumentos e nos tornarmos maestros da nossa mais perfeita sinfonia.
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* foto: google